Em 1993, Pedro Norton de Matos estava pela terceira vez na sua vida a trabalhar na Unisys – duas vezes é raro, mas acontece; três é improvável –, desta vez como presidente-executivo, e a EXAME chamava-lhe “o general que pôs a empresa em sentido”, numa referência ao seu antepassado. “Trata-se de uma metáfora porque o meu tio-bisavô era o general Norton de Matos, ele, sim, de carreira militar, que foi candidato à Presidência da República e uma figura proeminente da República e da oposição democrática ao regime do Estado Novo”, explica.
O “pôr em sentido a Unisys” tem que ver com o facto de, na década de 90, a indústria das tecnologias de informação e da informática ter passado por enormes mudanças: “Estava a dar-se uma transição brutal, dos sistemas operativos proprietários, em que cada fabricante tinha o seu, para o mundo dos sistemas abertos e universais. As empresas foram todas sacudidas”, recorda Pedro Norton de Matos. Pela primeira vez na sua história, a líder IBM registou prejuízos e a Unisys estava a ter dificuldades em manter a segunda posição no ranking.
Foi precisamente no meio desta revolução, para dar uma nova vida à empresa, que o gestor voltou à Unisys pela terceira vez, onde se manteve por uma década. “Comecei por liderar a operação em Portugal, que correu bem, talvez por isso seguiu-se Espanha, que estava em dificuldades e, mais tarde, Itália.
O Sul da Europa esteve sob a minha responsabilidade”, adianta. Ainda recebeu o convite para, a partir de Miami, tomar conta de toda a América Latina, mas recusou por motivos familiares.
E foi, precisamente, nessa altura que surgiu o desafio para liderar o quarto operador, a ONI, que venceu uma das licenças de telecomunicações aquando do lançamento do 3G. Pedro Norton de Matos entrou na ONI em maio de 2010, onde esteve seis anos, o último dos quais já em esforço: “Ao fim de cinco anos, em 2005, tive um episódio de saúde, uma epifania, tive um enfarte de miocárdio, felizmente sem sequelas, mas que levou a que prometesse, na cama dos Cuidados Intensivos, à minha família que iria mudar de vida. Isso foi em janeiro, fazia 50 anos em fevereiro. Esta data redonda fez-me mudar de vida. Aconteceu há 13 ou 14 anos”, relembra.
Mudou-se há dois anos para um solar minhoto, localizado perto de Ponte de Lima – curiosamente, o seu tio-bisavô era natural desta cidade – e passou a dedicar-se às pessoas. Tem três áreas de trabalho: o coaching na liderança e soft skills; a sustentabilidade – é o organizador do Green Fest; e o empreendedorismo – dá aulas na Católica e tem uma ligação à incubadora Fábrica de Startups. “Tenho o melhor dos dois mundos, vivo no meio da Natureza com banda larga”, diz Norton de Matos.