Menos de seis meses depois de ter comprado uma participação de 40% na Terra Verde, a primeira empresa em Portugal a receber autorização para cultivo e exportação de Cannabis sativa, Ângelo Correia vendeu a sua posição aos britânicos da EMMAC, uma multinacional deste setor. E não foi o único: também o fundador, o israelita David Yarkoni, se terá desfeito da sua participação. Contudo, continuarão ligados à operação.
A compra da totalidade do capital da empresa sediada no Montijo foi conhecida esta terça-feira, num comunicado da EMMAC, onde se refere que esta é a sua “maior aquisição até à data.” Portugal torna-se assim no oitavo mercado da empresa e permite completar a integração da cadeia de fornecimento da companhia, do cultivo à distribuição.
À EXAME, Ângelo Correia confirmou a venda da sua posição e da do seu sócio, David Yarkoni, e acrescentou que ambos se manterão ligados à empresa britânica, não só através de uma posição acionista como enquanto administradores da EMMAC em Portugal. Sem revelar o valor envolvido na compra nem a posição acionista com que ficam na multinacional, Ângelo Correia diz ter tido “mais de uma dezena de manifestações de interesse” por parte de empresas interessadas na Terra Verde nos últimos cinco meses.
Em março, o histórico social-democrata tinha comprado 40% desta empresa, justificado ao Diário de Notícias a entrada no negócio porque “esta planta [canábis] tem um sem número de aplicações em termos de saúde e esta indústria é das mais promissoras em termos mundiais”. Mais tarde, admitiu que a empresa estava em negociações para a entrada de um potencial parceiro internacional. Agora, defende que a venda “foi feita não esquecendo a ideia básica de criar sempre o máximo possível de mais-valias a Portugal, para valorizar o País do ponto de vista industrial,” sublinhando o papel de relevo que espera que o País tenha na produção de canábis medicinal.
Logo que a transação esteja concluída, a EMMAC compromete-se a “investir significativamente” na Terra Verde, incluindo a construção de uma instalação certificada para armazenamento, processamento e fabrico de canábis tanto para o mercado português como para o internacional. A licença atribuída à Terra Verde, que faz parte do pacote da operação, prevê segundo a mesma nota o cultivo de oito hectares desta planta em estufas e no exterior.
David Yarkoni, que sempre se manteve discreto em relação à licença de cultivo, revela no comunicado que foram várias as empresas a manifestar interesse na compra da Terra Verde, mas a escolha acabou por recair na multinacional britânica. “Decidimos fazer uma parceria com a EMMAC devido à sua rede de distribuição, equipa de nível internacional e abordagem científica,” justifica. “Estamos ansiosos por trabalhar juntos,” conclui, sem explicitar de que forma será feito esse trabalho conjunto.
A EMMAC, liderada por Antonio Costanzo (um antigo executivo da Uber), quer tornar-se numa empresa líder na produção e fornecimento de canábis medicinal, cânhamo e outros produtos derivados. Além de Portugal, entre as aquisições realizadas este ano contam-se uma participação no laboratório espanhol Medalchemy, além da suíça Blossom e da britânica Rokshaw. Em novembro do ano passado a empresa tinha criado uma subsidiária em Portugal (a EMMAC Portugal Unipessoal), com sede em Lisboa.
Aliás, em maio passado, a EXAME contabilizava que em pouco mais de ano e meio tinham sido criadas em Portugal quase 40 empresas ligadas à canábis. Além disso, mais de uma dezena de projetos ligados à canábis medicinal foram tornados públicos e supõem um investimento total de, pelo menos, €200 milhões, em particular nas regiões do Alentejo, Algarve, Centro e da península de Setúbal. Em abril a canadiana Tilray tornou-se na primeira empresa a inaugurar instalações de transformação da planta em Portugal, na fábrica de Cantanhede.
Portugal – que há um ano autorizou o uso terapêutico da planta – é procurado pelas multinacionais ligadas à canábis pelas condições dos solos, o clima favorável e as horas de exposição solar que permitem produzir com quantidade, qualidade e previsibilidade. O preço da mão de obra e os custos competitivos de operação e dos ativos (terrenos baratos) também influenciam a decisão.