A confiarmos nos resultados sondagens, os Verdes serão a única força de esquerda a obter ganhos no Parlamento Europeu. Embora a atenção mediática se tenha concentrado nos ganhos da extrema-direita, o grupo ecologista poderá ficar com mais 10 lugares do que em 2014. Não é um crescimento enorme, mas os últimos dois anos trouxeram maior otimismo: as projeções que agora lhes dão cerca de 60 eurodeputados, chegaram a apontar para bem menos de 30.
Há vários motivos para não termos uma verdadeira “onda verde”. Talvez o principal seja a assimetria regional do seu sucesso, muito mais forte no Norte da Europa (especialmente na Alemanha) e frágil nos países no Leste e no Sul (em Portugal podem não eleger um único eurodeputado).
Como seria de esperar, os Verdes têm mais peso nos países ou regiões onde as alterações climáticas são mais importantes para os eleitores. As prioridades para os europeus são: imigração (40% diz que é um dos 2 temas mais importantes), terrorismo (20%) e contas públicas e economia (19% e 18%). Os dados do último Eurobarómetro mostram que “apenas” 16% da população coloca as alterações climática no topo das suas preocupações. Contudo, essa percentagem dispara para 46% na Suécia, 36% na Finlândia, 31% na Holanda, 27% na Irlanda e 26% na Bélgica.
Por esta altura, as sondagens apontam para que 1/3 dos eurodeputados Verdes venha da Alemanha. Se domingo for uma boa noite, será porque se confirmou o excelente resultado na maior economia do euro, onde algumas sondagens os colocam como segundo maior partido do País, com perto de 20% dos votos. Vale por isso a pena falar com Franziska Brantner, deputada alemã pelos Verdes e membro da Comissão para os Assuntos Europeus, sobre os motivos para este sucesso e sobre a manhã seguinte às eleições.
Em cada eleição dizemos sempre “esta é decisiva”. Mas estas europeias parecem, de facto, envolver riscos mais elevados. É assim?
Eu acredito mesmo que todas as eleições são importantes. Estas têm de especial o facto de haver uma batalha, não apenas sobre fazer mais programas sociais, mas pelo próprio sistema. Se queremos continuar com a integração europeia e continuar a trabalhar juntos ou se queremos regressar ao Estado-nação. Se ainda queremos uma democracia liberal, com liberdade de expressão, sistema judicial independente, sociedades tolerantes… ou se avançamos para democracias iliberais. Não é só uma discussão entre conservadores, liberais, verdes ou sociais-democratas. É mais fundamental. Em segundo lugar, no Parlamento Europeu não interessa só quem tem maioria. Importa que os antieuropeus e antidemocratas não tenham mais de 1/3 dos votos, porque são necessários 2/3 para aplicar um artigo 7º a um país que viole o Estado de Direito. E também precisa de maiorias superfortes, se quiser evitar a dispensa de um comissário e passar algumas votações orçamentais.
A ascensão dos eurocéticos de direita é aquilo que torna esta eleição diferente?
Sim, partidos de extrema-direita que acreditam que se voltarmos para o Estado-nação estaremos numa situação melhor. Decidimos que ganhamos se avançarmos juntos. Vamos ser capazes de manter essa abordagem de acreditar que podemos ter vantagens comuns se trabalharmos juntos?
Antecipa uma clarificação no Parlamento Europeu? Uma divisão clara entre as forças que defendem a democracia e a integração europeia e aqueles que querem uma Europa menos integrada?
Acho que nalguns partidos é difícil fazer essa divisão. Vimos isso com o PPE e o Fidesz, de Viktor Orbán. É que, além daqueles que querem regressar ao passado, há aqueles que acham que defender o status quo é suficiente. E depois há aqueles que acham que é preciso ir mais longe, com uma harmonização dos impostos, uma iniciativa digital conjunta… nós estamos no campo dos que acreditam que o status quo não é suficiente.
Os Verdes não são um novo partido, mas tentam posicionar-se como fora do mainstream. É uma estratégia para ir buscar votos aos eleitores que estão fartos dos partidos desse status quo?
Para mim, não é por querer votos, mas porque temos de ser capazes de garantir que a UE é capaz de solucionar os grandes problemas. Garantir segurança e coesão social. Se as pessoas acharem que só os bancos ganham com a Europa, vamos perder o projeto europeu. Estou convencida que precisamos de o fazer para salvar o projeto europeu. Podemos ganhar alguns votos? Espero que sim. Na Alemanha, os Verdes têm assumido a posição de falar com aqueles que não estão convencidos das nossas ideias. Às vezes conseguimos convencê-los, outras vezes são eles que nos convencem. Mas fazemos o esforço e isso é muito importante.
Parece haver uma onda de otimismo sobre o resultado dos Verdes nas eleições europeias, mas olhando para 2014 não há uma grande subida. Há, isso sim, um crescimento nos últimos dois anos. Concorda?
Provavelmente tem razão. As sondagens há dois anos eram muito piores do que agora. Nesse sentido, sou otimista. Se olhar para o que está a acontecer na Eslováquia, Polónia, os resultados recentes na Finlândia e as sondagens na Dinamarca… Até em Portugal, um dos poucos países onde os sociais-democratas não estão a perder. Se conseguirmos ter um Parlamento Europeu igual ao que temos hoje, talvez ficássemos aliviados, mas se calhar conseguimos que seja mais progressista.
Como noutros países no Sul da Europa, Portugal não parece estar a viver um ‘boom’ verde. Porque existe esta diferença entre países do Norte, onde os Verdes estão a crescer, e as dificuldades que essa mensagem tem Sul e, nalguns casos, no Leste?
Tem a ver com a História. Onde nós começámos em 1979 e onde o vosso país estava em 1979. Não se pode explicar sem olhar para cada país individualmente. Em França, está relacionado com o sistema eleitoral de “vencedor leva tudo”. Em Itália, estamos a avançar bem no Norte, mas o [Movimento] 5 Estrelas tomou conta dos temas ambientais.
O vosso crescimento na Alemanha parece coincidir com a queda da AfD [partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha].
Acho que não é correto [fazer essa comparação]. Ganhámos o meu estado – Baden-Württemberg – em 2011, antes de a AfD ter sido criada. Temos insistido em dar respostas para esta crise e em manter o otimismo, sem ceder ao medo e ao ódio. E quando temos governado, como no meu Estado, temo-lo feito muito bem.
Mas nas sondagens nacionais é difícil não ver que a queda da AfD coincidiu com a vossa subida.
Para os eleitores, é útil alguma clareza. Por vezes, o SPD e a CDU não sabem como reagir à AfD. Devem assumir posições semelhantes ou continuar a defender aquilo em que acreditam? Nós temos sido muito claros desde o início, ao dizer que não vamos correr atrás da AfD e não vamos ceder ao seu discurso de medo e divisão. Nesse sentido, somos um partido com um perfil claro. Também ajudou o facto de as alterações climáticas se terem tornado num assunto central para os eleitores.
Qual deverá ser o papel dos Verdes no Parlamento Europeu?
Devemos lutar por uma Europa que quer salvar o clima. Se avançarmos como europeus podemos ir mais rápido. Em segundo lugar, devemos tornar a Europa num lugar mais justo. Temos de garantir que temos mínimos sociais e que toda a gente paga os seus impostos. É decisivo para a coesão europeia. Temos também de garantir que a Alemanha investe mais. Em terceiro lugar, defender a democracia, o Estado Direito e os direitos humanos.
Admitiria uma frente unida pró-Europa no Parlamento Europeu contra outras forças?
Espero que consigamos ter uma maioria progressista, mas para nós dependerá da substância. Nós não nos guiamos pela cor do outro partido, mas por sermos ou não capazes de atingir dos nossos objetivos.
No âmbito da reforma da Zona Euro, aceitariam algum tipo de transferências entre Estados?
Acreditamos numa união de investimento. Investimentos em bens comuns públicos, como controlo de fronteiras, tecnologia de combate às alterações climáticas, futuro digital, infraestrutura de energia, transportes… Todos beneficiamos destes bens. Não defendo simples transferências de um Estado para o outro, mas podemos investir mais nesses bens comuns e a Alemanha terá, claro, de assumir uma maior fatia desses investimentos. Financiaríamos esses investimentos através da harmonização dos impostos e do combate à evasão e fraude fiscal que estão a roubar o nosso dinheiro, harmonização fiscal. Nem sempre é o mais popular na Alemanha, mas temos cada vez mais apoiantes.