Ter algum dinheiro de lado e predisposição para investir em projetos empresariais inovadores e em fase de lançamento – são duas caraterísticas comuns à definição de business angels, investidores informais que aplicam o seu capital em investimento em startups e PME. Mas estes fatores não bastam.
“Isto não é uma lotaria, não é jogar dados. É uma atividade com processos, com algumas métricas,” avisa Pedro Rocha Vieira, CEO da aceleradora Beta-i, que esta quinta e sexta-feira organiza, juntamente com a Federação Nacional de Associações de Business Angels (FNABA), a Business Angel Summit, a decorrer na sede do IAPMEI em Lisboa.
O objetivo do evento, que se segue a 10 edições do congresso daquela federação, é capacitar e profissionalizar através da partilha de experiências e melhores práticas internacionais entre investidores de vários pontos do mundo, proporcionar networking, além de dar a conhecer oportunidades de investimento em Portugal, depois de vários anos em que o perfil dos investidores mudou.
“Antes era mais uma lógica ligada a grupos empresariais. O ecossistema está hoje mais interligado, há mais concorrência, mais fontes de financiamento. E quem quiser investir tem de se adaptar às regras do jogo. Há uma nova geração, gente mais nova, algumas entidades com pessoas dedicadas a full time – mudou bastante,” diagnostica Rocha Vieira à EXAME.
Entre os investidores estão serial entrepreneurs (empreendedores que criaram mais do que um negócio com sucesso) que estão de saída dos seus investimentos e estão predispostos a investir; pessoas que estiveram fora do país e regressam; quadros em final de carreira (como partners de consultoras), além de grandes empresários, e a que se junta a inserção de Portugal em redes internacionais de business angels, refere o responsável.
O ambiente de baixas taxas de juro redireciona o foco dos investidores para fontes alternativas de rentabilidade e tem sido uma das alavancas a estimular a atividade dos business angels. Mas antes de entrar nestes investimentos, o CEO da Beta-i nota que é necessário ter alguns fatores em conta.
Desde logo a necessidade de um forte envolvimento por parte dos business angels em relação
às startups em que estão presentes – “É preciso dedicação, tempo.” A outra questão é a do valor do investimento, que não deverá ser superior a 5% a 10% do que tem de rendimento disponível para não pôr em risco as poupanças. “E para que, em caso de perda, possa haver capacidade de recuperação no prazo de dois anos,” acrescenta.
Tem ainda de estar disponível para deixar o investimento “estacionado” durante algum tempo, que pode ir de sete a 10 anos, embora seja possível sair (vender) antes: “Tem de estar disposto a perder dinheiro e a ter o dinheiro lá durante muito tempo”, numa atividade que tem uma taxa de mortalidade de empresas elevadas e em que – estima – 40% das empresas dão um retorno baixo e só entre 10% a 20% proporcionam um retorno maior do investimento.
Além de poder investir sozinho, o business angel tem também a possibilidade de participar em sociedades organizadas ou em fundos. “Às vezes [os business angels] fazem um, dois, três investimentos e isso é pouco. [Nesses casos] mais vale juntar-se a um sindicato e acompanhar quem lidera,” acrescenta o CEO da Beta-i.
No âmbito de iniciativas de investimento conjunto como estas, em 2016 e 2017 o IAPMEI credenciou um total de 350 business angels para participação, como intermediários financeiros, em entidades-veículo para concorrerem a co-financiamento por fundos geridos pela IFD – Instituição Financeira de Desenvolvimento, como o Fundo de Capital e Quase Capital (FC&QC). Quase duas dezenas desses business angels eram oriundos do estrangeiro, nomeadamente Reino Unido, Angola e Estónia. Nesse âmbito foram constituídas 35 entidades-veículo para investimento em PME, com co-financiamento do fundo gerido pelo IFD e uma dotação global de €33,2 milhões.