Como surgiu a Economia? O que é o protecionismo comercial? O que provoca um crash em Wall Street? Estas são algumas das perguntas às quais Michael Goodwin responde. O autor de Economix usa palavras, mas a sua principal arma é o lápis de Dan E. Burr, o responsável pelas ilustrações do livro acabado de lançar em Portugal. Uma mega-BD que vai dos alfinetes de Adam Smith, no final do século XVIII, à crise financeira global de 2008. Em baixo, a entrevista que a EXAME fez ao autor, acompanhada de alguns dos cartoons do livro.
O que o fez querer escrever este livro e porquê utilizar cartoons?
Começou como uma curiosidade – adoro ler sobre História e, eventualmente, percebi que a História está constantemente a seguir tendências económicas. Então decidi aprender sobre economia. Mas quando tentei ler manuais de economia, o mundo que eles descreviam não correspondia ao mundo que eu via à minha volta. A determinada altura, quanto mais lia, mais via que havia toda uma outra história lá fora. As pessoas estavam a tentar contar essa história, mas a sua mensagem não estava a passar, pelo menos em parte porque a maioria das pessoas vê “Economia” no título de um livro e os seus olhos perdem-se. Portanto, decidi contar esta história em cartoons, porque ninguém se sente intimidado por uma BD.
Não tem formação em economia. Como foi o processo de investigação?
Sim, não tenho formação em economia. O meu método foi basicamente sentar-me com uma data de livros – manuais modernos, do século XIX, clássicos da área e várias coisas aleatórias – e começar a ler. No início, cada livro trazia uma revelação que me fazia mudar radicalmente a minha ideia do que o Economix deveria ser, mas eventualmente concluí que quando lia um livro, conseguia encaixá-lo no meu modelo. Demorei quatro anos de leitura e escrita para chegar ao primeiro rascunho. O livro não saiu até quatro anos depois (tinha de ser ilustrado e por aí fora), mas eu não estava a trabalhar a tempo inteiro no livro nessa altura. Talvez tenha demorado seis anos de trabalho a tempo inteiro.
A economia é uma área demasiado opaca? Isso é propositado?
Sim, é definitivamente demasiado opaca. Acho que a única razão para a profissão de economista não ser considerada um escândalo – é ridículo que uma área que emprega tanta gente, com tantos custos, tenha alcançado tão pouco nestes séculos – é o facto de utilizar tanto jargão e matemática que a maioria das pessoas não consegue perceber quão inadequada é.
Mas isso não significa que seja propositado. Uma conclusão da economia é que um mercado livre chega a resultados que nenhum participante no mercado tinha intenção de provocar. Mas isso aplica-se a muitas instituições, incluindo a economia. Se ler sobre História económica, nunca houve uma altura em que os economistas se juntaram e disseram “hey, vamos usar muito jargão para que nunca ninguém nos possa criticar e os nossos empregos estarão seguros”. O jargão e a mistificação foram um resultado não intencional de outras decisões que pareceram razoáveis na altura. Um exemplo: como disse antes, comecei a tentar ler livros de economia, mas descobri rapidamente que faltava algo. Liguei a uma economista minha amiga e perguntei-lhe “o que me está a falhar? Isto parece tudo treta”. A resposta dela foi “sim, não te está a falhar nada, eles são mesmo uma treta”. Mas ela continuava a ensinar a partir daqueles manuais, porque os estudantes dela tinham de ir para a próxima aula. É assim que as instituições funcionam. Elas restringem as escolhas das pessoas que fazem parte delas. Existem muitas pessoas dentro da instituição que querem que ela mude, mas ela não vai mudar sozinha.
Porque é importante tornar a economia mais acessível?
Uma grande razão é o facto de existirem dois níveis de economia, pelo menos nos Estados Unidos: aquilo que os profissionais fazem, que é normalmente bom e interessante, e depois a visão dos manuais, que é simplista ao ponto de ser estúpida, e que é aquilo que a maior parte das pessoas se lembra das suas aulas de economia. A outra grande razão é que até o nível mais alto de estudo da economia tem falhas profundas e precisa de ser repensado e isso só pode acontecer quando se abrirem os estores das janelas e se deixa entrar o ar.
Os economistas e os responsáveis públicos deveriam fazer um esforço maior para comunicado com o público em termos mais simples?
Idealmente, sim. Deveriam. E a comunicação deveria ser em ambas as direções – deveriam ouvir também. Mas se esperarmos que o façam a partir da bondade dos seus corações, teremos de esperar para sempre. A última coisa que muitos deles querem – especialmente os responsáveis públicos – é que nós percebamos aquilo que eles estão a fazer. Cabe-nos aprender aquilo de que estão a falar, para que eles não nos consigam dar tretas tão facilmente.