Não é a primeira vez que se posiciona para concorrer ao Palácio do Planalto, mas nunca como até agora tinha encontrado terreno tão fértil para conseguir resultados positivos. Flávio Rocha é o presidente-executivo da gigante retalhista Riachuelo e pré-candidato à presidência do Brasil. Em entrevista à Bloomberg, o milionário já avisou que se conseguir chegar ao cargo, uma das coisas que vai fazer desde logo é “vender todas as companhias estatais”. E isso inclui o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), um dos maiores apoios ao povo brasileiro, e o Banco do Brasil, a maior instituição da América Latina em ativos. “Temos que redesenhar o Estado”, defende o empresário à mesma agência noticiosa, antes de acrescentar que quer promover o empreendedorismo e ser o “guardião da competitividade”.
Rocha, ultra liberal na economia é ultra conservador nos costumes: promete defender a instituição família e já se manifestou várias vezes contra a aceitação do casamento homossexual, apesar de, em entrevista à Bloomberg garantir que tem “vários amigos gays” e que até não se oporia à união civil de pessoas do mesmo sexo. E vai mais longe, afirmando que a Riachuelo é “o maior empregador de transgénero do país”. O problema é que Rocha já tem currículo como político, e as suas posições e apoiantes são sobejamente conhecidos. No passado dia 27 de Março o empresário juntou-se ao Partido Republicano Brasileiro – fundado pela Igreja Universal do Reino de Deus, numa espécie de braço político – que o anunciou como pré-candidato, para logo depois ter recebido publicamente o apoio do Movimento Brasil Livre, um movimento de extrema-direita que tem ganhado cada vez mais apoiantes no país.
Numa altura em que o Brasil atravessa uma profunda recessão, os votos são ganhos não pelo que cada candidato defende economicamente, mas pelo que consegue fazer sentir. O Banco Mundial estima que em 2016, entre 2,5 milhões a 3,6 milhões de pessoas voltaram a viver abaixo do limiar da pobreza, depois de, pela primeira vez em 2014 o país ter conseguido sair do ‘mapa da Fome’ elaborado pela FAO.
Com uma fortuna avaliada em 2,2 mil milhões de dólares, Rocha garante que vai resignar a todos os cargos executivos se conseguir chegar à cadeira presidencial, e afirma ainda que não usará qualquer dinheiro da sua família para financiar a campanha. Diz ainda que está farto de ver uma certa burguesia ocupar cargos de poder, esquecendo os mais pobres do país – a maioria da população.
Certo é que o Brasil só conseguiu ver alguns resultados em termos de ascensão social durante os governos de esquerda, mais exatamente aquando da presidência de Lula da Silva, cujas políticas – como o Bolsa Família – foram depois seguidas por Dilma Rousseff. Nessa altura, milhões de brasileiros conseguiram sair do limiar da pobreza, apesar de se manterem as dúvidas sobre quão sustentáveis eram estes pacotes de apoio aos mais desfavorecidos. O atual presidente, Michel Temer, tem cortado todos os apoios sociais, mas nem assim a recessão dá sinais de abrandamento. Apesar de haver algumas expectativas animadoras em relação ao comportamento da economia em 2018, será preciso que o crescimento supere os 2% para que se consiga aproveitar, por exemplo, todo o potencial das camadas mais jovens que ainda não abandonaram o país em busca de uma vida melhor – seja em termos de segurança, seja em termos económicos.
É que só no ano passado saíram do Brasil mais de 21 mil pessoas – em 2011 esse número fixou-se nos 8.100.