É um caderno para usar sem medo de errar, com páginas reutilizáveis onde tudo se pode apagar sem deixar marcas. Pedro Lopes começou a sonhar com ele quando andava no 12.º ano e, poucos meses depois, apresentou-o ao mercado, pronto a aprender a ser empresário. Aos 19 anos, este estudante de engenharia tem um escritório em Viseu, espaço próprio na sala de coworking do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), muitas ideias para dar gás ao negócio e a expectativa de fechar o primeiro exercício com lucros.
“Tudo está a avançar muito depressa”, comenta Pedro Lopes, já com uma base de 1300 clientes e planos para vender 20 mil cadernos este ano, o que duplica a previsão feita no início de 2015 e poderá representar um volume de negócios próximo dos 100 mil euros para a Lopes e Gerken, a empresa criada com o sócio e colega de escola Matheus Gerken para dar corpo ao projeto EcoBook.
A ideia nasceu em casa, enquanto Pedro lutava contra o lápis, “porque não desliza bem no papel”, e a caneta, “impossível de apagar”. À procura de uma solução alternativa, lembrou-se dos quadros brancos usados na escola e em grandes empresas. Comprou um, mas percebeu rapidamente que tinha de estudar em pé e quando surgia uma dúvida não podia levá-lo até à escola para mostrar o problema à professora. Foi então que pensou: “E porque não arranjar um quadro branco em forma de caderno?”
Fez um protótipo artesanal com plástico de encadernar livros, partilhou a ideia com “um colega de turma que também tinha espírito empreendedor” e começaram a trabalhar no projeto. A solução foi encontrada com a ajuda de uma tipografia de Viseu que já fazia cadernos tradicionais e uma campanha de crowdfunding na plataforma PPL.
As contas mostraram que precisavam apenas de 1250 euros para concretizar a ideia. Acabaram por reunir 2308 euros, 20% dos quais através do apoio da família. Foi a primeira vitória deste projeto, que começou por oferecer um EcoBook com caneta a quem contribuísse com 10 euros ou dois exemplares em troca de 15 euros.
Ouvir os clientes
Os primeiros exemplares foram vendidos numa feira em S. Pedro do Sul. “Foi uma forma de testarmos o mercado e correu bem, tal como o crowdfunding. Levámos 50 cadernos para vender a 6,99 euros e esgotámos o stock”, conta Pedro Lopes. Depois, conscientes da falta de preparação para o mundo dos negócios, encontraram um mentor disposto a ajudar e começaram a conquistar os primeiros clientes, numa lista que inclui a Câmara de Viseu, um escritório de advogados e algumas empresas.
A marca foi registada e a solução está patenteada, mas o material usado nas folhas destes cadernos feitos à medida de quem não gosta de desperdiçar papel faz parte do segredo do negócio. No mercado, apresenta-se nos modelos A5, com 15 folhas e um peso de 219 gramas, e A4, de 20 folhas e meio quilo de peso, ambos disponíveis em versão pautada ou lisa. Vendem-se com caneta preta ou encarnada, que tem uma borracha na ponta pronta a apagar, podem ser personalizados à medida do cliente e também tem uma versão A6, para responder às sugestões dos clientes.
“Ouvir o consumidor está a ajudar-nos a avançar com a empresa”, afirma Pedro Lopes, que já apresentou uma solução para prender a caneta ao caderno, vai lançar kits de limpeza e está a estudar a internacionalização da ideia.
No plano de negócios, a prioridade são os países lusófonos, de olhos postos no Brasil, a terra natal de Mateus, e Angola, onde o mentor deste projeto tem contactos, mas o EcoBook também já despertou a atenção de parceiros na Polónia e Colômbia e conquistou a FNAC e a Amazon Espanha.
Até agora, a experiência tem mostrado que vender o EcoBook não é o mais difícil. Bastou Pedro usá-lo na faculdade para os colegas quererem comprar cadernos como o dele. Mas apresentar-se em reuniões de negócios com o ar juvenil de quem ainda só tem 19 anos nem sempre ajuda a abrir portas. Por isso, quando recebeu o mail da UPTEC a falar do programa de aceleração de start-ups, Pedro concorreu de imediato para aproveitar os workshops, a rede de contactos, a possibilidade de apoios ao desenvolvimento da empresa, ao mesmo tempo que frequenta algumas cadeiras de gestão na Faculdade de Economia da Universidade do Porto para garantir formação nessa área.
O sócio Mateus teve de abandonar a empresa, mas o mentor do projeto decidiu entrar na sociedade e o pai de Pedro, que começou por se limitar a sorrir quando o filho falava do EcoBook, também. “Começaram a ver o potencial da ideia”, comenta o jovem empresário, que vendeu 4500 cadernos em quatro meses e espera vender 15 mil unidades por mês em 2018.
A inspiração? Pedro Lopes cita de imediato uma frase de Drew Houston, cofundador e presidente da Dropbox: “O empreendedorismo é como saltar de um precipício e ter de construir o próprio paraquedas.”
Este artigo é parte integrante da EXAME de setembro.