O fim de semana de provas, em Peniche, é o momento mais marcante para quem participa no Prémio Primus Inter Pares (PPIP). Nem todos lá chegam, mas quem passa pela segunda fase do Prémio evoca esta experiência. É um coro de vozes que destaca o dia e meio de desafios, longe de casa, fora da zona de conforto, em que raras vezes conhecem alguém no grupo de 24 candidatos que é selecionado para esta etapa do PPIP – uma iniciativa conjunta do Expresso e do banco Santander Totta, cuja 12.ª edição terminou em junho.
Cabe à empresa especializada em recursos humanos Egor desenvolver o processo de seleção, pôr em prática as provas e avaliar os concorrentes. Na véspera da derradeira etapa, a Egor tem de indicar os cinco nomes dos finalistas ao júri – composto por Francisco Pinto Balsemão, presidente do Grupo Impresa, em representação do Expresso, António Vieira Monteiro, presidente do Santander Totta, a empresária Estela Barbot, Raquel Seabra, vencedora da 2.ª edição do PPIP, e ainda o advogado António Vitorino, a quem cabe decidir quem é o grande vencedor.
Mafalda Sousa Guedes, 25 anos, finalista do curso de Gestão na Universidade Nova, foi uma das participantes no fim de semana de provas do Primus. Ultrapassada a fase inicial da competição, integrou um dos dois grupos, cada um com 12 pessoas selecionadas pela Egor, de onde viriam a sair os cinco finalistas. Não foi escolhida para enfrentar o júri, mas marcou-a a oportunidade de conhecer as 11 pessoas com quem partilhou o fim de semana. Eram “11 pessoas com um perfil tão parecido com o meu e ao mesmo tempo tão diferentes de mim, 11 pessoas que espero manter na minha vida”. Isto a par do facto de “os desafios que me foram apresentados fizeram-me descobrir alguns dos meus pontos fracos que tenho de fazer um esforço por combater.”
São múltiplas as provas pelas quais passam os candidatos. O entusiasmo é uma constante, o querer fazer também. E, se possível, conseguirem-no perante os olhos atentos, e sempre de caneta e papel na mão, dos avaliadores da Egor. Pode ser uma prova de equipa para ultrapassar obstáculos, onde a estratégia é fundamental. Pode ser um desafio individual, de cariz introspetivo, em que cada um é convidado a projetar-se como candidato a Presidente da República daqui a vários anos.
Fazer amigos
A pressão também faz parte. Ou por imposição de limites de tempo ou ao colocar os concorrentes perante possíveis medos. Como no caso das provas noturnas, em que um percurso de orientação os leva ao topo de uma parede de vários metros que devem descer em rappel.
Francisco Mendonça, 22 anos, licenciado em Economia pela Faculdade de Economia do Porto e com um mestrado em Gestão pela Nova School of Business and Economics, em Lisboa, chegou aos cinco finalistas da 12.ª edição do PPIP. Na bagagem, além do 2.º lugar e de um MBA (atribuído aos três primeiros classificados por ordem de preferência), levou da experiência “as amizades.” “Conheci pessoas excecionais, muito diferentes entre si mas todas com os seguintes atributos: extremamente inteligentes, com os pés bem assentes na terra e uma enorme vontade de criar um impacto no mundo”, disse à EXAME, frisando que, “apesar de estarmos todos a competir pelo mesmo prémio, éramos uma equipa muito unida e que se ajudava sempre que necessário”.
Amândio da Fonseca, presidente do conselho de administração da Egor, acompanha a par e passo todas as fases do prémio. Em Peniche, são avaliadas competências ao nível da inteligência emocional, capacidade de liderança e de definir estratégias, trabalho em equipa, entre outras. “É na dimensão experiencial que os candidatos põem à prova de forma mais genuína aquelas que são as suas melhores competências. Dada a diversidade dos ângulos de avaliação, todas as provas são importantes. Umas podem ser mais espetaculares do que outras, mas todas elas nos ajudam a fazer a síntese de competências que pomos ao dispor do júri para tomar a decisão final entre os cinco candidatos que entrevistam”, revela o responsável da Egor.
Sobre o balanço das 12 edições do PPIP, Amândio da Fonseca não hesita: “Bastante positivo. Seis dezenas de candidatos foram reconhecidos e premiados ao longo destes anos e muitos deles estão a desenvolver carreiras de prestígio em grandes organizações mundiais. Dispersos por todo o mundo, cavalgam a onda do sucesso e são reconhecidos como profissionais talentosos e com grande futuro”, acrescentando que “o Prémio impôs-se e é hoje reconhecido como uma das mais importantes iniciativas na deteção do talento”.
À conquista de um MBA
Luís Bento dos Santos, administrador do Santander Totta (também acompanha o Prémio deste o primeiro dia), não duvida de que “a oportunidade de realizarem um MBA numa universidade de prestígio é algo muito valorizado pelos estudantes, mas também todo o percurso que passam enquanto candidatos, em que se desafiam a si próprios e são confrontados com várias experiências que os preparam para a sua vida profissional, que está agora a começar”.
Se nestes últimos anos os candidatos ao Primus já têm uma melhor noção do que os espera, o mesmo não aconteceu com os pioneiros. Há também algumas diferenças entre as primeiras gerações Primus e as mais recentes. Amândio da Fonseca fala em “diferenças subtis” e frisa que “o verdadeiro talento se manifesta em todas as gerações”. Uma ideia partilhada por Luís Bento dos Santos: “Vivemos numa sociedade diferente daquela que existia há 12 anos; nos dias que correm, há uma sociedade mais globalizada mas também mais exigente, e isso reflete-se nos jovens de hoje.
Além disso, ao contrário do que acontecia no início, atualmente os candidatos têm de ser finalistas de mestrado, “pelo que nos deparamos com estudantes muito mais maduros, que já têm alguma experiência no mercado de trabalho e que possuem uma visão mais clara do que pretendem para o seu próprio futuro. No entanto, desde o início, estes jovens demonstraram qualidades fora do comum, uma vontade de querer sempre mais e de se superarem”, diz Bento dos Santos. O que procura o Prémio? “Os mais talentosos, os que melhor combinam a ambição e a pulsão de ‘fazer acontecer’ com o autoconhecimento das suas próprias competências e limitações”, resume Amândio da Fonseca.
As vitórias do arranque do Prémio foram feitas no feminino: Inês Bernardo foi a primeira distinguida e, no ano seguinte, Raquel Seabra (que desde 2012 faz parte do júri, convite que surgiu após ter recebido o Prémio Dona Antónia Adelaide Ferreira). Este ano, o primeiro lugar foi entregue de novo a uma mulher, Carolina Monteiro, de 24 anos (ver perfil), depois de um interregno de várias edições sem mulheres no 1.º lugar. A experiência de trabalhar no estrangeiro faz parte do percurso de vários dos 12 vencedores do PPIP, assim como uma carreira ascendente em algumas multinacionais.
Centenas de candidatos
Já passaram mais de 900 concorrentes pelo PPIP. Alguns foram eliminados logo à partida, porque não cumpriam os requisitos, nomeadamente ao nível académico, em que é exigida uma média final de licenciatura igual ou superior a 14 valores e que frequentem o último ano do curso de mestrado. Também não podem ter mais de 26 anos. Na passada edição, houve 79 estudantes inscritos (quatro foram excluídos). A maioria eram alunos finalistas de cursos de Gestão e 24 passaram à segunda fase do Prémio, depois de terem cumprido as regras de admissão e terem sido os melhores numa bateria de testes psicotécnicos. Houve mudanças ao longo dos anos no Prémio. Inicialmente desenhado para finalistas de Gestão, abriu-se mais tarde às licenciaturas em Economia e em Engenharia. Entretanto, veio o Processo de Bolonha, o que obrigou a mexer na estrutura do Prémio, passando a contemplar os alunos de mestrados nestas três licenciaturas. Luís Bento dos Santos recorda esses momentos: “O PPIP foi criado para os alunos de Gestão, mas rapidamente nos apercebemos, até pelo enorme sucesso que teve, que faria todo o sentido alargá-lo aos cursos de Economia e, mais tarde, ao de Engenharia, que são tradicionalmente candidatos naturais a um MBA.” A 13.ª edição do Primus arranca no final deste ano.
A VENCEDORA DA 12ª EDIÇÃO DO PRIMUS
Carolina Monteiro, 24 anos, é a mais recente vencedora do Prémio Primus Inter Pares (PPIP) e veio interromper um ciclo de vitórias no masculino. De sorriso fácil, algo tímido, tem na família, sobretudo nos avós maternos, e nos amigos os seus pilares. São o que mais valoriza na vida.
“Os meus amigos costumam dizer que tenho ‘o melhor dos dois mundos’, ou seja, não podemos viver apenas para os estudos e temos de ser capazes de os conciliar com as nossas paixões, a nossa família e amigos. O esforço que fazemos para ser ‘bons alunos’ não faz sentido se não for para servir melhor a nossa vida ao lado dos que mais gostamos”, defende. Com este equilíbrio, formou-se em Gestão pelo ISCTE Business School e foi a melhor aluna, no seu ano, da licenciatura em Gestão e Engenharia Industrial e do mestrado em Sciences in Business Administration.
No lado profissional – é hoje analista na Winning Management Consulting – valoriza “a partilha”. Na sua opinião, “nada do que aprendemos faz sentido se não for partilhado e só com a partilha é que conseguimos atingir patamares mais elevados de excelência, seguindo o conceito da inteligência coletiva”. Por isso acredita que “um bom gestor ou um bom líder deve ter estes valores, mas também ser orientado à solução e ter a capacidade de fazer acontecer, motivando as pessoas à sua volta e desenvolvendo as competências de cada elemento da sua equipa”.
Sobre o facto de ter sido apontada, com a vitória do PPIP, como uma jovem promessa da gestão, diz que encara o desafio “como um grande reconhecimento do meu percurso académico e da minha postura enquanto cidadã. Claro que vem também uma grande responsabilidade e uma promessa de cumprir expectativas: do júri, dos outros concorrentes, dos meus amigos e da família”. Garante que está “muito motivada para agarrar esta oportunidade, fazer a diferença no mercado de trabalho e seguir os sonhos, que serão sem dúvida alavancados com a frequência do MBA numa universidade de excelência. Gostaria de ser um exemplo para a minha geração e mostrar que o empenho, a proatividade e o otimismo são recompensados no futuro”.
Sempre deu importância ao percurso académico por grande influência dos avós. “Nasci e cresci no Estoril, maioritariamente na companhia dos meus avós, uma vez que os meus pais trabalhavam no ramo hoteleiro e sempre tiveram horários por turnos”, conta Carolina. E durante a infância passou muitas tardes a fazer os TPC (trabalhos para casa) com a avó materna “e algumas contas de matemática ‘extra’, que ela considerava fundamentais para manter uma boa prestação na escola. Em complemento, o meu avô dizia-me para continuar o bom rumo nos estudos para poder ‘ser alguém na vida’”.
No futuro quer ser empreendedora e ter um negócio na área do design (influência do lado artístico da família, pois o tio é pintor e o pai é um autodidata em design gráfico) ou da culinária (gosto que lhe foi inculcado pela avó paterna, de Esposende). É ponto assente que qualquer carreira que venha a ter será em Portugal, mas admite que “possa ficar a trabalhar no estrangeiro durante algum tempo, para ganhar mais competências. As experiências internacionais são uma excelente forma de alargar horizontes e aprender novas culturas, novos mundos”. Sempre com o objetivo de “capitalizar o meu conhecimento aqui e ter impacto no desenvolvimento do meu país, retribuindo o que até agora me proporcionou. As condições poderão não ser as mais atrativas e não serem oferecidas muitas oportunidades de crescimento, no entanto, acredito que há sempre recetividade para quem quer criar essas oportunidades por si próprio. Acima de tudo, temos de encarar as circunstâncias com otimismo, pois ser orientados ao problema não nos permite avançar no caminho para o sucesso”.
ENTREVISTA A LUÍS BENTO DOS SANTOS
Administrador do Santander Totta, diz que a geração ‘primus’ pode fazer a diferença
Acompanha o Prémio Primus Inter Pares (PPIP) há 12 anos, qual o balanço que faz?
É, sem dúvida, excelente. Recebemos centenas de candidaturas de jovens com imenso talento e com uma vontade ímpar de mostrar as suas capacidades e de deixar a sua marca na sociedade. Muitos destes jovens ocupam hoje cargos importantes na sua área, dentro e fora do país, o que nos deixa obviamente orgulhosos. O PPIP é hoje um prémio de excelência, reconhecido pelo papel que tem no ensino superior português e pelo impulso que dá a estes jovens com tanto talento.
Estes jovens talentos são os gestores do futuro?
R Acreditamos que sim. Muitos dos vencedores e finalistas ocupam cargos de responsabilidade em grandes empresas, multinacionais e até em organismos internacionais. A maioria trabalha no estrangeiro, o que é sempre uma experiência importante para quem quer ter uma carreira de sucesso. Temos vencedores um pouco por todo o mundo, como Londres, Munique, Sidney, São Paulo, Rio de Janeiro ou Frankfurt.
A geração ‘primus’ pode fazer a diferença no país?
R Muitos terão certamente uma carreira brilhante à sua frente e alguns serão mesmo os futuros líderes nas suas áreas. O PPIP é um passaporte para uma carreira de sucesso, pois permite-lhes abrir horizontes, conhecer outras formas de pensar e de agir. Entre os vários ‘primus’, gostaria de destacar o caso especial de Raquel Seabra, vencedora da 2.ª edição, que mudou recentemente de uma prestigiada consultora para diretora de Estratégia de uma grande empresa alimentar e recebeu, em 2012, o Prémio Dona Antónia Adelaide Ferreira, tendo desde então passado a integrar o júri do Primus.
Quais são as características cruciais para ser finalista e, até, vencer o PPIP?
R A ambição, a vontade de chegar mais longe e de se superar são um primeiro passo para chegar longe na competição. Depois os alunos têm de ter algumas características importantes, como a capacidade de liderança, iniciativa, trabalhar em equipa, assumir riscos, o espírito ético.
Estes artigos são parte integrante da edição da EXAME de agosto de 2015.