No momento em que soma mais de 30 anos de atividade em Portugal, aMundicenter está a dar o seu primeiro passo no sentido da internacionalização, em Angola. A empresa, detida em cerca de 86% pelo Grupo Alves Ribeiro, foi mandatada para a gestão do Shopping Fortaleza, que pertence ao Grupo Sopros e já está em fase de construção. O centro comercial, localizado na Baía de Luanda, está direcionado para o segmento médio alto/alto, tem uma área bruta locável de 26 mil metros quadrados e é um de cinco novos shoppings que deverão abrir em Angola até 2015.
Este primeiro passo num mercado externo marca também o arranque de uma nova etapa para o grupo: a entrada no negócio da prestação de serviços. À semelhança do que a concorrente Sonae Sierra já faz em países como a Colômbia, Marrocos, Chipre, Sérvia, Itália e China, a Mundicenter está agora a olhar para o negócio da gestão de centros comerciais, mesmo não sendo sua proprietária. Neste sentido, “temos andado a ver oportunidades”, adianta Fernando Oliveira, administrador executivo da Mundicenter. Oportunidades de gestão, mas também de aquisição ou gestão com possibilidade de compra, acrescenta. No retalho comercial, “estamos a olhar para tudo”.
Os últimos anos têm sido duros para a atividade dos centros comerciais em Portugal, com a procura em queda, lojistas a passarem por dificuldades e descontos nas rendas cobradas. Os bancos, por seu turno, veem-se a braços com centros comerciais que lhes vão parar às carteiras de ativos, como o outlet Campera, no Carregado, o Acqua Roma, na Avenida de Roma, em Lisboa, o ex-Beloura Shopping (atual Fashion Spot), o Vivaci Guarda, o Vivaci Caldas e o Vivaci Maia (eram da entretanto falida FDO) ou o Dolce Vita Braga. É a este tipo de ativos que a Mundicenter está atenta.
Recuperação em 2013
Apesar de estar a analisar oportunidades de investimento, a empresa não escapou à quebra generalizada no setor dos centros comerciais. As suas vendas caíram 5,5% em 2012 face a 2011 e o tráfego reduziu 1,7%. No ano passado, todavia, a empresa do Grupo Alves Ribeiro conseguiu inverter a tendência de queda e recuperar fôlego. “Os trimestres foram sempre melhorando”, afirma Fernando Oliveira, tendo fechado o ano com uma faturação próxima de 64,7 milhões de euros. Em 2013, o tráfego nos centros comerciais da firma cresceu cerca de 3% e as vendas 5%, com uma taxa de ocupação média de 96,4%.
Esta recuperação resulta do esforço que o grupo tem feito na remodelação e expansão dos seus ativos, bem como na revisão dos processos de trabalho -contenção de custos e melhoria da oferta em termos de mix comercial e serviços.
Ainda antes da crise no setor já a Mundicenter tinha avançado com a reconversão do Olivais Shopping para Spacio, em 2009, através de um investimento de cerca de 16 milhões de euros. Ainda nesse ano ficou concluída a segunda expansão do Braga Parque, que, a somar à primeira, representou um investimento de cerca de 93 milhões de euros. Seguiu-se, em dezembro de 2012, a alteração do conceito do Odivelas Parque em Strada Shopping & Fashion Outlet, onde o grupo investiu perto de 3,8 milhões de euros. O reposicionamento deste último ativo face à concorrência tem tido “resultados muito bons”, comenta Fernando Oliveira.
O outlet localizado em Odivelas foi, aliás, apontado como um exemplo de sucesso nas políticas de redefinição de conceitos e reposicionamento, segundo o relatório WMarket Review 2013/2014, divulgado pela consultora imobiliária Worx em março. Num espaço que não conseguiu afirmar-se como centro comercial nasceu uma superfície comercial de periferia, com preços de outlet e com um espaço âncora de peso: uma Loja do Cidadão. Já este ano, a Mundicenter vai avançar com a expansão do centro comercial Oeiras Parque, cujo projeto está em processo de licenciamento na Câmara Municipal de Oeiras. O objetivo é adicionar três mil metros quadrados de área ao espaço, o que pressupõe alterações nas zonas de restauração e dos cinemas. A ideia é que, além da abertura de uma loja FNAC, os restaurantes e cinemas fiquem no piso de cima e as lojas de moda no piso de baixo. Ao todo, a Mundicenter estima investir cerca de 23 milhões de euros nesta expansão. Com 98% de ocupação em 2013, o Oeiras Parque é, depois do Amoreiras e antes do Braga Parque, um dos ativos da Mundicenter que gera mais receita.
Antecipar tendências
Ter público, boa acessibilidade, lojas âncora, argumentos comerciais fortes e boa localização continuam a ser os principais requisitos que, à partida, podem ditar o sucesso de um centro comercial. No caso do Amoreiras, o facto de ter posicionado a sua oferta para um público com poder de compra elevado fez com que várias marcas o escolhessem para instalar as suas primeiras lojas, como aconteceu com a Boticário há quase 30 anos. Com uma taxa de ocupação próxima de 100%, o centro tem resistido às oscilações do mercado e sabido adaptar-se às necessidades da procura. Por isso, “vamos avançar com a reformulação geral da área de restauração, com mais restaurantes e food court”, conta Fernando Oliveira. As obras deverão ficar concluídas até ao final do ano.
Ainda em 2013, a Mundicenter recuperou e reabriu o Centro Comercial Alvalade, que também faz parte da primeira geração de shoppings de Lisboa (inaugurado em 1976), através de um investimento de cinco milhões de euros.
A adaptação ao mercado não contempla apenas obras e expansão de áreas. “Temos de criar novas formas de fidelizar e comunicar, antecipando a mudança de hábitos e tendências, interagindo com as pessoas”, afirma o mesmo executivo. Por isso a Mundicenter passou a disponibilizar acesso a rede Wi-Fi gratuita nos seus centros comerciais e a distribuir folhetos em mandarim, para atrair os abastados turistas chineses.
NÚMEROS
67,6 milhões de euros foi o volume de faturação gerado pela Mundicenterem 2013 (tinha chegado a 68,9 milhões em 2012). O grupo detém nove espaços comerciais: Amoreiras, Spacio Shopping (antigo Olivais Shopping), Oeiras Parque, Braga Parque, Strada Outlet (antigo Odivelas Parque), galeria comercial Campus S. João (Porto), Amoreiras Square, Arena Shopping (Torres Vedras) e Centro Comercial Alvalade. Ao todo, a Mundicenter gere 198.595 metros quadrados de área comercial (valor que engloba a área dos hipermercados, não detida pelo grupo) e ainda 15.774 metros quadrados no setor dos escritórios.
16,6 milhões de euros foi a faturação registada no primeiro trimestre deste ano, o que representa um aumento de cerca de 1,5% em relação a igual período de 2013.
5% foi o crescimento das vendas nos shoppings em 2013, sendo que o tráfego também subiu cerca de 3%.
96,4% é a taxa de ocupação do espaço nos centros comerciais daMundicenter, “um valor muito positivo, tendo em conta as taxas de ocupação e comercialização do setor imobiliário de retalho no geral”, considera a empresa.