Leblon, Rio de Janeiro, 30 de abril de 2009. Já perto da meia-noite, a estreita Rua Dias Ferreira continuava envolvida pelo cheiro a etanol queimado que os escapes iam libertando no pára arranca do trânsito. No meio da azáfama da zona sul carioca, Américo Amorim era uma das pessoas que conversavam à porta do discreto restaurante Zuka, juntamente com o presidente executivo da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira. Tinham acabado de jantar com outros administradores e quadros da petrolífera portuguesa e viviam a euforia de quem descobriu que estava sentado em cima de uma gigantesca mina de ouro negro.
Festejaram por uma boa razão: o dia seguinte seria um dos mais importantes na história da Galp. Ninguém melhor do que Manuel Ferreira de Oliveira sabia disso.
Tinha sido ele quem, alguns anos antes, preparara a estratégia da entrada da Galp na prospeção de petróleo no Brasil. Nesse jantar no Leblon, a comitiva da empresa portuguesa brindou ao êxito da estratégia, confirmada a enorme dimensão das reservas petrolíferas existentes no subsolo oceânico do Brasil. Aliás, todos estavam no Rio para participar na cerimónia oficial do “Ano I de Uma Nova Era”, a sugestiva designação que o então Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, utilizou para apresentar ao mundo o “1º Óleo de Tupi”, cujo anúncio fora marcado com pompa e circunstância para o Dia do Trabalhador.
Américo Amorim estava radiante. Não largou a conversa à saída do restaurante, enquanto Ferreira de Oliveira deu várias vezes indicação de que tinha pressa em chegar ao hotel. A manhã começaria bem cedo, pois iam de helicóptero até ao navioplataforma “Cidade de São Vicente”. Nada menos do que uma viagem de 290 quilómetros sobre o mar, na bacia de Santos, para chegarem ao “São Vicente” na altura em que “simbolicamente” seria extraído o primeiro petróleo dos reservatórios do campo de Tupi, localizados a 5000 metros de profundidade, debaixo de uma lâmina de 2145 metros de água.
Nessa noite, Américo Amorim já sabia que as novas perspetivas do campo Tupi apontavam para um potencial de reservas recuperáveis que podiam atingir 8 mil milhões de barris de petróleo e gás natural.
Esta descoberta serviria de alavanca para aumentar exponencialmente a dimensão da Galp, mas não seria o único contributo brasileiro para o futuro crescimento da empresa portuguesa. A Galp também integrou os outros principais consórcios que investiram na produção do petróleo brasileiro, cujas prospeções estavam a arrancar, revelando igualmente reservas petrolíferas promissoras. Ou seja, Américo Amorim, acionista maioritário da holding Amorim Energia – que na altura controlava 33,34% da Galp -, e Ferreira de Oliveira tinham a certeza que a petrolífera portuguesa estava “alicerçada” numa das maiores descobertas petrolíferas de sempre, com reservas de dimensão internacional.
Corcovado foi generoso
No portefólio de investimentos do empresário de Mozelos, líder mundial do sector da cortiça, o contributo do campo Tupi pode ser considerado um enorme golpe de sorte. Aliás, Américo Amorim “desabafou” na altura que “o Cristo do Corcovado foi muito generoso com a Galp”. Essa foi a força anímica que o levaria a travar todos os interesses concorrentes que tentaram conquistar o projeto da petrolífera portuguesa, desde os seus parceiros angolanos, liderados pela empresa estatal Sonangol, até aos italianos da ENI, cujo presidente, Paolo Scaroni, tinha anunciado publicamente que ou comprava a maioria do capital da Galp ou saía da empresa. E saiu! Na perspetiva de Ferreira de Oliveira, tudo corria de feição. O presidente executivo da Galp já fazia contas ao crescimento da produção de petróleo no Brasil que calharia à sua empresa. Dos 14,7 mil barris diários que a Galp estava a produzir em 2009 – extraídos quase totalmente de Angola -, Ferreira de Oliveira contava chegar aos 300 mil barris diários em 2020. Mas, na altura, em 2009, estas expectativas pareceram de tal forma otimistas que não faltaram analistas do mercado de capitais a colocarem dúvidas sobre o realismo deste projeto, alertando para o grande músculo financeiro que ia exigir. Mas Ferreira de Oliveira nunca deu o flanco, garantindo que as reservas de petróleo descobertas eram reais e que o projeto da Galp era sólido, o que viabilizaria os financiamentos necessários para honrar a quota-parte de investimentos que a Galp teria de realizar. “Há sempre dinheiro para bons projetos”, afirmava. A verdade é que hoje é sabido que, no final de 2012, a Galp deve atingir os 25 mil barris diários. De igual forma, são cada vez mais credíveis os 70 mil barris diários previstos para 2015 e há boas perspetivas de a Galp até ultrapassar os 300 mil barris diários em 2020.
Oficialmente, o Brasil confirmou o grande potencial petrolífero do seu “pré-sal”. Foi precisamente uma amostra do petróleo extraído do campo Tupi que, ao fim da tarde de sexta-feira, 1 de maio de 2009, Lula da Silva apresentou à vasta plateia de convidados que reuniu na marina da Glória. Lula “arrasou” todos, garantindo ao mundo que o Brasil tinha entrado numa nova era. E a Galp – tal como as restantes petrolíferas que investiram neste “pré-sal” oceânico – ia acompanhar a “onda” crescente do ouro negro brasileiro. A importância económica e política do campo Tupi foi tão marcante para o Brasil que acabou por ser rebatizado com o nome de Lula.
Objetivo: 5000 milhões de euros de EBITDA
E se o EBITDA (os resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) da Galp já foi “simpático” com os 14,7 mil barris diários produzidos em 2009, Ferreira de Oliveira sabe que o futuro será provavelmente muito melhor, mesmo com as vendas de gasolinas e gasóleos a sofrerem quebras nas redes dos postos Galp em Portugal e Espanha. Teoricamente, em 2020, “a empresa poderá contar com um EBITDA de aproximadamente 5000 milhões de euros, sustentado pela produção de 300 mil barris diários, admitindo um cenário com poucas variações na cotação do petróleo”, segundo contas feitas por Ferreira de Oliveira.
Volvidos três anos e meio, Américo Amorim terá razões para estar ainda mais contente. Entretanto, a Galp mudou radicalmente, quer pelo crescimento da sua atividade internacional, quer ao nível da composição acionista. A administração executiva incorporou novos gestores, como o ex-responsável pela Jerónimo Martins, Luís Palha da Silva, o ex-responsável pelo Deutsche Bank em Portugal, Filipe Crisóstomo Silva, o ex-vice-presidente da Shell, Stephen Whyte, e o professor de Direito e ex-secretário de Estado do Tesouro e Finanças, Carlos Costa Pina.
Neste período, a atividade internacional da Galp aumentou consideravelmente.
Contando com as recentes entradas na prospeção e exploração petrolíferas em Marrocos e na Namíbia, o seu portefólio global já ultrapassa os 50 projetos petrolíferos espalhados por quatro continentes, com o peso relativo da operação em Portugal – e até na Península Ibérica – a ser cada vez mais pequeno. Não obstante, em Portugal, a Galp concretizou o maior investimento industrial, renovando as refinarias de Sines e do Porto.
Relativamente às críticas que apontavam para a fragilidade financeira da Galp e para a sua eventual incapacidade de assumir os investimentos em que se comprometeu na prospeção de petróleo no Brasil, com o aumento de capital da holding Petrogal Brasil, subscrito pelo gigante chinês Sinopec (que ficou com 30% da Petrogal Brasil), a Galp obteve, segundo o então chairman, Francisco Murteira Nabo, um encaixe de 5,2 mil milhões de dólares (cerca de 4 mil milhões de euros ao câmbio atual), o que “dotou a Galp de uma das estruturas de capital mais robustas do sector energético europeu”, refere.
A era do presidente-patrão
Uma das maiores mudanças relaciona-se com a liderança da empresa. Pela primeira vez na história da Galp, o Conselho de Administração passou a ser presidido pelo acionista de referência da empresa, Américo Amorim, terminando a época das nomeações feitas pelo Estado, ao mesmo tempo que acabou o acordo parassocial onde a Caixa Geral de Depósitos (CGD) representava o interesse público. A Galp entrou na era do “presidente-patrão”.
Entre o universo acionista da petrolífera portuguesa, a ENI e o seu presidente executivo, Paolo Scaroni, perderam a “guerra” pela conquista da Galp. Scaroni acabou por desistir do controlo da empresa do “G” laranja e em julho passado começou a vender a sua participação de 33,34%, de forma faseada. A Amorim Energia – holding controlada em 55% por Américo Amorim, onde os restantes 45% são detidos pelos angolanos da Sonangol, associados a Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos, Presidente angolano – comprou 5% ao lote dos italianos.
Assim, a Amorim Energia aumentou a sua participação para 38,34%, o que reduziu o capital detido pela ENI para 28,34% da Galp. O negócio não ficou barato à Amorim Energia, que pagou 590,8 milhões de euros, o que corresponde a um preço de 14,25 euros por ação.
Os parceiros angolanos de Amorim, que moveram muitos lóbis para comprarem uma participação direta no capital da Galp, não conseguiram concretizar os seus objetivos (pelo menos, até à data), permanecendo vinculados à Amorim Energia.
No final de novembro, a Amorim Energia renegociou o acordo com a ENI, recuperando o exercício de uma opção de compra – que já tinha expirado – de mais 5% da Galp, adquiríveis ao lote de ações da ENI.
Agora, a Amorim Energia poderá exercer essa opção até 31 de dezembro de 2013.
Também no fim de novembro, a ENI vendeu o equivalente a mais 12% do capital da Galp em bolsa, sendo 4% em ações e 8% em obrigações convertíveis em ações.
Inicialmente, a ENI tinha dito que queria colocar no mercado 5% do capital que ainda detinha na Galp, mas os investidores só ofereceram o preço que os italianos pretendiam em relação a 33,2 milhões de ações, correspondentes a 4% da Galp, pagando 11,48 euros por ação. A CGD quis beneficiar destas condições e também vendeu as ações que detinha na Galp (1% do seu capital, ou seja, 8,29 milhões de ações).
Angolanos não compram ações “diretas”
Ao todo, foram transacionadas no final de novembro 107,8 milhões de ações da Galp, entre as vendidas pela ENI e pela CGD e as que equivalem à emissão obrigacionista.
Nesta operação, a ENI encaixou cerca de 1,4 mil milhões de euros, baixando a sua participação na Galp de 28,34% para 24,34%; no entanto, se forem consideradas as ações correspondentes à emissão obrigacionista (8%), a participação da ENI na Galp ficou reduzida a 16,34% do seu capital social. Ao todo, a Amorim Energia pode aumentar em 8,34% a sua participação na Galp, saltando dos atuais 38,34% para 46,68%.
O presidente executivo da Galp evita falar no tema da participação direta dos parceiros angolanos da Amorim Energia, mas acaba por reconhecer que ninguém proíbe a Sonangol de comprar ações da Galp entre as que são colocadas à venda no mercado de capitais. E questiona: “Porque é que os capitais angolanos não compraram ações diretamente?” Até à data, desconhece-se que haja participações diretas qualificadas detidas por sociedades angolanas, adquiridas entre todas estas ações da Galp que foram transacionadas.
Para Ferreira de Oliveira, a estratégia internacional seguida pela Galp já está a dar frutos: “Nos nove primeiros meses de 2012, os lucros da Galp aumentaram 57%”, diz, explicando que a atividade da empresa piorou na Península Ibérica, onde é confrontada com a queda das vendas de gasolinas e gasóleos, enquanto “a produção de petróleo, centrada em Angola e no Brasil, aumentou quase 50%, passando a ser a área principal da empresa em termos de cash flow operacional”.
“Estamos a aumentar os investimentos em várias geografias.Acabámos de entrar em Marrocos e na Namíbia, numa altura em que o grande projeto do gás moçambicano, na bacia do Rovuma, já está bem encaminhado, onde temos recursos de gás natural que permitem abastecer o mercado português durante 25 anos – e tudo isso vai-nos facilitar a dar o salto para os 300 mil barris diários que queremos estar a produzir daqui a sete anos. Acredito que dentro de pouco tempo a Galp vai identificar um quarto grande projeto na produção de petróleo e gás natural. Esta é a âncora do crescimento da Galp”, diz.
Brasil felicita entrada de chineses
Sobre a entrada dos chineses da Sinopec na Petrogal Brasil, a holding que a Galp tem para a produção e exploração de petróleo brasileiro, Ferreira de Oliveira refere que, antes de assinar os contratos com a Sinopec, meteu-se num avião direto de Hong Kong ao Rio de Janeiro para explicar toda a operação que estava a ser preparada e diz que “foi felicitado no Brasil”. Mas, apesar deste grande crescimento internacional da Galp, o investimento em Portugal não foi descurado pela empresa.
Aliás, o “grande orgulho” de Ferreira de Oliveira é o investimento na modernização das refinarias de Sines e do Porto, que permite aumentar a produção de gasóleo já a partir do início de 2013 e as quantidades de gasolina e gasóleo exportadas. “Julgo que o valor das exportações da Galp vai estar muito próximo dos 4 mil milhões de euros por ano”, refere, o que corresponderá a um aumento de quase mil milhões de euros de exportações face aos volumes que a Galp tem obtido.
Com a “casa arrumada” – tranquilizados os acionistas angolanos e com a ENI a sair da empresa -, Ferreira de Oliveira diz que dispõe de uma nova Comissão Executiva apta a enfrentar o “rápido crescimento” que diz que a Galp vai ter a curto e médio prazo.
Novos executivos rebatem críticas
Quer Américo Amorim quer Ferreira de Oliveira consideram que a Galp tem hoje a Comissão Executiva “mais forte de sempre”.
Mas, mesmo assim, há analistas do mercado de capitais que acham que o atual modelo de governo nunca foi testado na Galp, com um chairman patrão de personalidade vincada, apoiado por uma liderança executiva “dual”, com dois responsáveis máximos, ambos conhecidos pelos seus “marcados” estilos de gestão.
Isto é: Ferreira de Oliveira passou a ter um vice-presidente “forte”, que é Luís Palha da Silva. E é improvável que Américo Amorim, como chairman, aceite um papel de “rainha de Inglaterra”.
Palha da Silva é o primeiro a rebater esta crítica. “A Galp Energia tem seis administradores executivos e eu sou um deles.
A Comissão Executiva é chefiada por Ferreira de Oliveira, o CEO, e não há dois responsáveis. Sendo eu vice-presidente, substituo-o apenas nos seus impedimentos.
Não há zonas cinzentas, sobreposições de autoridade ou conflitos de competências.
Tudo é claro e transparente”, diz.
O ex-responsável da Jerónimo Martins (JM) explica que acompanha “mais diretamente a refinação e distribuição em Portugal, Espanha e diversos países africanos, com maior expressão nos de língua portuguesa”.
Consumo de gás vai cair em Portugal
Quanto ao mercado do gás natural, os analistas temem que a empresa possa ser confrontada com uma regressão no consumo português. Carlos Gomes da Silva, que tem o pelouro desta área na Comissão Executiva, reconhece que, “além do impulso no consumo de gás natural associado à entrada em funcionamento dos grandes projetos industriais desenvolvidos pela Galp Energia [as novas unidades na refinaria de Sines e a cogeração da refinaria de Matosinhos], não se vislumbram outros fatores indutores de crescimento no mercado português de gás natural”.
Gomes da Silva admite que a Galp prevê “reduções no consumo de gás natural para a produção de energia elétrica em detrimento de outras fontes de energia [carvão, hídricas e eólicas]”. Mas refere que “este movimento de contração de mercado será compensado por oportunidades de colocação de gás natural nos mercados internacionais”, sobretudo nos mercados asiáticos.
Perante o processo em curso da liberalização dos mercados de energia, Gomes da Silva refere que a empresa “lançou os planos GalpOn que conjuga a oferta de gás natural e eletricidade, ao qual aderiram mais de 60 mil famílias em seis meses”.
Também a produção de eletricidade com centrais próprias de ciclo combinado é considerada no mercado de capitais como um projeto que a Galp não vai desenvolver. Gomes da Silva recorda que a Galp Energia é detentora de uma licença de construção de uma central de ciclo combinado a gás natural (CCGT) com a potência de 800 MW, destinada a operar em regime de mercado.
Este administrador executivo explica que “as alterações verificadas no mercado de eletricidade, quer em termos de oferta quer em termos de procura, fazem com que num horizonte de médio prazo haja capacidade excedentária no sistema elétrico e, consequentemente, não seja viável economicamente ou necessária a adição de mais potência elétrica”.
No sector da produção petrolífera, as observações dos analistas são positivas e apontam para um potencial de crescimento da Galp que pode ultrapassar o inicialmente previsto. Stephen Whyte, administrador executivo com o pelouro da exploração e produção petrolífera, mostra-se seguro de que a Galp terá “um crescimento de produção na próxima década ímpar na indústria”.
A produção em 2020 “vai igualar a nossa capacidade de refinação, ou seja, 300 mil barris por dia, que é um pouco mais do que o consumo nacional, e a bacia de Santos, onde participamos, será fundamental para atingirmos este objetivo”.
“Os trabalhos que temos vindo a desenvolver no campo Iara e, mais recentemente, no campo Júpiter, bem como os sucessos obtidos já este ano com a descoberta do campo Carcará não só consolidam esta área como uma das mais prolíficas a nível mundial como suportam o nosso objetivo de produção de longo prazo”, refere Stephen Whyte. O administrador da Galp garante que em 2020 vão estar em produção 14 navios-plataforma (as unidades FPSO). Atualmente, há apenas uma unidade FPSO em produção.
“Moçambique, a par do Brasil e de Angola, está no centro do crescimento da área de exploração e produção da Galp. Este país foi palco das maiores descobertas de gás natural nos últimos anos. Na área 4 da bacia do Rovuma, bloco em que a Galp detém uma participação de 10%, foi já comprovada a existência de cerca de 75 triliões de pés cúbicos (Tcf) de gás natural”, revela Stephen Whyte.
Potencial de Moçambique é igual ao do Qatar
O ex-vice-presidente de Exploração e Produção da Shell afirma que Moçambique vai “tornar-se num dos principais centros de gás natural da próxima era, equivalente ao que é hoje o Qatar a nível mundial”.
Quanto à viabilidade de produzir petróleo em Portugal, e face às expectativas mais otimistas admitidas para a zona de Alcobaça, Stephen Whyte mostra reservas.
“Posso afirmar que estamos a trabalhar para que Portugal conste no mapa das descobertas, mas ainda é cedo para discutir um eventual nível de produção. No onshore, mais concretamente na região de Alcobaça, perfurámos um poço de exploração este ano que, embora tenha mostrado indícios positivos, foi considerado não comercial e, como tal, abandonado.
Estamos neste momento a analisar e a discutir com o nosso parceiro os resultados obtidos, para decidir sobre a melhor forma de prosseguir”, esclarece.
Sobre os projetos no offshore do Alentejo, Stephen Whyte adianta que “os dados obtidos mostram um potencial relevante, mas estamos ainda a realizar mais estudos para que possamos reduzir o risco associado e decidir sobre a localização do primeiro poço exploratório, que poderá acontecer em 2014”.
Na área dos biocombustíveis, alguns industriais consideram que na atual conjuntura de crise deveria ser suspendida a incorporação de biodiesel para tornar o preço do diesel mais acessível e evitar uma queda tão pronunciada do consumo.
Mas o administrador executivo com este pelouro, Carlos Costa Pina, acha que “a perspetiva de a UE vir a crescer, no longo prazo, a um ritmo que será metade do crescimento previsto para a economia mundial também não provoca qualquer inflexão nas políticas. Prova disso mesmo é o facto de em outubro passado ter sido anunciado, pelo comissário da Energia, o projeto de reindustrialização da Europa para 2020 [de aumentar o peso da indústria no PIB europeu de 16% para 20%], sem reduzir a exigência das metas de emissão de GEE e com substancial reforço da chamada ‘bioeconomia'”.
Neste sentido, Costa Pina pensa que “são importantes para a Galp os projetos de biocombustíveis que desenvolvemos no Brasil e em Moçambique e mais recentemente em Portugal. E são importantes para o aprovisionamento da atividade de distribuição ibérica e em África, podendo assegurar uma relativa autonomia face à alternativa de depender do mercado”.
Finalmente, sob o ponto de vista financeiro, surge frequentemente a dúvida sobre o grau de cobertura do risco dos investimentos em que a Galp participa nos consórcios do pré-sal brasileiro. O administrador executivo da área financeira (CFO), Filipe Crisóstomo Silva, reconhece que estes projetos “são de enorme envergadura, mas existem vários fatores que nos tranquilizam em termos de gestão de riscos. Desde logo, o risco geológico está muito mitigado pela dimensão das reservas já comprovadas”.
“O risco financeiro foi igualmente afastado com o aumento de capital da Petrogal Brasil, que permitiu um encaixe de 5,2 mil milhões de dólares. Ficaram dissipadas quaisquer dúvidas sobre a capacidade de a Galp acompanhar os investimentos que estes projetos irão implicar ao longo dos próximos anos”, garante Crisóstomo Silva.
Quanto ao efeito da crise na situação da Galp, questiona-se igualmente a forma como o rating da República portuguesa tem afetado negativamente o acesso da Galp a financiamentos de curto prazo. Filipe Crisóstomo Silva esclarece que a Galp continua a financiar-se “sem qualquer dificuldade no curto e no longo prazo, mas o custo desses financiamentos tem vindo a aumentar. Certamente que estaríamos a financiar-nos a taxas muito mais competitivas se os mercados financeiros olhassem mais para o nosso balanço e para os nossos projetos e menos para o país onde estamos sedeados. A deterioração do rating da República implica uma desvantagem competitiva para todas as empresas portuguesas”.
Este artigo é parte integrante da edição 345 da Revista EXAME