Com a proximidade do Dia Mundial da Alimentação, a 16 de Outubro, é tempo de refletir sobre a fome, a escassez de alimentos, o desperdício alimentar, a agricultura, a sustentabilidade e os desafios que as alterações climáticas introduzem no setor. É também tempo de pensar na segurança alimentar e em como, na União Europeia (UE), temos a sorte de poder confiar nos alimentos que encontramos no supermercado. Para ajudar a promover a literacia alimentar, a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) e a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) lançaram, pelo segundo ano, a campanha #EUChooseSafeFood. Uma oportunidade para compreendermos como, na UE, a ciência está presente em tudo o que pomos no prato. E aprendermos mais com isso.
Fruto do trabalho da EFSA, os consumidores europeus estão entre os mais bem protegidos e informados do mundo no que diz respeito aos alimentos que consomem. O sistema de segurança alimentar da UE assegura que cada cidadão europeu tem o direito de saber como os alimentos que consome são produzidos, processados, embalados, rotulados e vendidos. Por exemplo, por muito estranha e pouco natural que seja a cor de um bolo (azul vibrante com sprinkles amarelos), temos a certeza que é seguro e que não ficaremos doentes por comê-lo. É, aliás, importante não demonizar os aditivos. Se alguns, como os corantes, poderiam ser dispensados sem perda de qualidade do produto, uma vez que o seu propósito é apenas melhorar a aparência, outros são necessários para garantir que os alimentos processados permanecem seguros e em boas condições, uma vez que viajam através da cadeia de abastecimento alimentar desde fábricas ou cozinhas industriais até armazéns e lojas, e finalmente até aos nossos pratos.
Por outro lado, uma pessoa com uma alergia alimentar pode comprar alimentos com segurança, bastando para isso que leia o rótulo do produto. Atualmente, os fabricantes de alimentos vendidos na UE devem rotular 14 alergénios ao abrigo da legislação em vigor. Estes incluem glúten, leite, ovos, frutos secos, amendoins, soja, peixe, crustáceos, moluscos, aipo, tremoço, sésamo, mostarda e sulfitos. E a ciência dos alergénios continua a evoluir para que esta lista possa ser atualizada no futuro.
A ciência (também) da confeção dos alimentos
Mas a segurança alimentar não acaba à porta do supermercado, pelo que é importante que saibamos o que fazer para mantermos a qualidade dos produtos antes, durante e depois de os confecionarmos. Por exemplo, talvez já tenha ouvido dizer que alimentos queimados provocam cancro. O que talvez não saiba é que a culpa é da acrilamida: um químico que se forma naturalmente em produtos alimentares amiláceos quando são cozinhados a altas temperaturas (acima de 120°C). Alimentos feitos de cereais, tais como cereais de pequeno-almoço, bolachas, torradas e café, bem como produtos de batata ou batata-doce, são exemplos de alimentos com níveis mais elevados de acrilamida. É, portanto, muito importante que, ao cozinhá-los não os deixemos queimar. Tenha especial cuidado com as torradas e os fritos.
Para além disso, há alguns cuidados que devemos ter com o manuseamento e confeção dos alimentos para garantir que as bactérias não proliferam. A comida cozinhada, por exemplo, não deve ser deixada à temperatura ambiente por mais de duas horas, mas guardada no frigorífico, em recipiente apropriado, mesmo que ainda esteja morna. Quando a quiser consumir, deve reaquecê-la completamente. Quanto à descongelação de produtos alimentares, a forma mais segura de o fazer é no frigorífico. O hábito de descongelar na bancada da cozinha, à temperatura ambiente, é de evitar.
Acima de tudo, é importante não utilizar os alimentos para além da sua data-limite. Isso leva-nos ao por vezes difícil exercício de descortinar a validade dos alimentos. Aqui, há duas grandes categorias: o “consumir até” e o “consumir de preferência antes de”. “Consumir até” tem a ver com a segurança dos alimentos, enquanto “consumir de preferência antes de” tem a ver com a qualidade. Ou seja, no primeiro caso, depois da data de validade, o alimento é considerado não seguro para consumo e pode fazê-lo adoecer. Enquanto no segundo caso, desde que siga as instruções de conservação, os alimentos serão seguros para comer após a data de durabilidade mínima, mas podem não ter o mesmo sabor ou textura – não há garantia de que o alimento será tão fresco, saboroso, estaladiço, etc. como antes, mas não o deixará doente. Portanto, não é necessário deitá-lo fora.
A questão da validade dos alimentos reveste-se de importância acrescida tendo em conta que a Comissão Europeia estima que até 10% dos 88 milhões de toneladas de desperdícios alimentares produzidos anualmente na UE estão relacionados com a marcação da data nos produtos alimentares. Só em Portugal, estima-se que são desperdiçadas cerca de 1.000.000 toneladas de alimentos por ano.
Números chocantes que reforçam o valor da campanha #EUChooseSafeFood, concebida, precisamente, para ajudar os cidadãos a pensar de forma crítica sobre as suas escolhas alimentares. Este ano, a gama de tópicos da campanha foi alargada e inclui informação sobre aditivos, alergénios, bem-estar animal, contaminantes alimentares, desperdício alimentar, doenças de origem alimentar, fitossanidade, higiene alimentar, materiais para contacto com os alimentos, novos alimentos, saúde das abelhas e suplementos alimentares. Para aprender mais sobre estes e outros temas, procure a hashtag nas redes sociais ou entre AQUI.