Não deve haver um português que não tenha ouvido dizer que, há muitos, muitos anos, Portugal e a Grã-Bretanha assinaram um tratado que estabelecia a troca comercial, livre de tarifas, de têxteis e vinhos. Pode não se lembrar do nome (Methuen), mas sabe que Portugal punha os vinhos e a Grã-Bretanha punha os panos. O que é curioso é que a maior parte das pessoas acha que o primeiro vinho a ser despachado por navio na volta do correio foi o do Porto, mas na verdade foi Vinho Verde de Monção & Melgaço. É pelo menos isso que nos conta o Conde d’Aurora, na sua obra de 1962, intitulada “Itinerário do Primeiro Vinho Exportado de Portugal para a Grã-Bretanha”. Aliás, de acordo com referências históricas, em 1678, ou seja, mais de 20 anos antes da assinatura do tratado de Methuen, já Portugal andava a fornecer a British Naval Comissioners com pipas de Vinho Verde.
Essas pipas vinham do único sítio possível: a região vitivinícola dos Vinhos Verdes, no Noroeste de Portugal. Hoje há até um selo de garantia exclusivo “Monção & Melgaço” que certifica a autenticidade, origem e qualidade dos vinhos deste território. É lá, no ponto mais a Norte, que fica o berço da casta Alvarinho, na sub-região que inclui, precisamente, os concelhos de Monção e Melgaço.
A manta de vegetação exuberante que se estende a perder de vista, cobrindo montes e vales, à medida que avança até ao mar, é o primeiro sinal de que estamos num sítio muito especial. Mas é o microclima único que dá ao Alvarinho as suas características de excelência. As montanhas que rodeiam esta sub-região protegem-na do oceano Atlântico e influenciam a precipitação. Apesar de os Invernos serem frios e chuvosos (e os Verões quentes e secos), chove menos aqui do que resto da região (e faz mais calor no Verão). A presença de um conjunto significativo de superfícies de água (rio Minho e afluentes) regula as temperaturas na fase de maturação das uvas – dias quentes e noites frias protegem os aromas e a persistência do sabor.
Não é por acaso que numa área total de vinha de 1750 hectares, 1340 são dedicados ao cultivo da casta Alvarinho. É que só aqui é que estas uvas conseguem desenvolver em pleno a suas qualidades, produzindo um vinho de cor intensa, palha, com reflexos citrinos. Um aroma distinto e complexo, com notas de marmelo, pêssego, banana, limão, maracujá e líchia, flor de laranjeira e violeta, avelã, noz e mel. E um sabor complexo, macio, redondo, harmonioso, encorpado, persistente e com notas minerais que contribuem para a frescura característica.
E agora, que ficou cheio de fome com esta descrição deliciosa e a morrer por um copo de Alvarinho, o melhor é planear um fim-de-semana dedicado ao enoturismo. É que o Verão já deu o que tinha a dar, mas ainda vai a tempo de ver as vinhas em todo o seu esplendor. Até porque este território produz toda a sorte de Vinhos Verdes brancos, Verdes tintos e Verdes rosados, e até espumantes e aguardentes de vinho verde. O clima faz maravilhas não só pelo Alvarinho, mas também pelas castas tintas Alvarelhão e Pedral, recomendadas exclusivamente para esta sub-região. A produção anual de vinho verde ronda os 10,2 milhões de litros, dos quais 85% são de vinho branco, 11% de vinho tinto e 4% de rosado.
Caso precise de inspiração para as suas expedições vitivinícolas, entre AQUI e escolha uma das diversas sugestões, de rotas temáticas, como De Valença a Monção – Com a Vinha por Companhia ou De Melgaço a Ponte de Lima – Rota dos Fortes e dos Prazeres. Seguindo estes percursos poderá visitar várias adegas do Alvarinho, conhecer o castelo de Melgaço, passear pelas muralhas de Monção, recuperar fôlego na frescura no convento de Ganfei ou tirar selfies com a torre de Lapela ao fundo. E, claro, provar os melhores Alvarinhos da terra.