É preciso que nos caia a ficha: a mudança política registada no País, em resultado das eleições de domingo, é uma espécie de 25 de Abril ao contrário. Uma revolução eleitoral que muda completamente – ainda é cedo para dizer se irreversivelmente – o paradigma político em Portugal. Não por acaso, dirão os que acreditam em bruxas, será no dia 28 de maio que ficaremos a conhecer os resultados dos círculos da emigração, onde se prevê a confirmação do Chega como segunda força política. Nesse preciso dia de 28 de maio “comemoram-se” os 99 anos da “Revolução Nacional” de 1926, que acabou com a I República, instituíu a ditadura militar e daria origem ao Estado Novo, com a ascensão de Salazar e do salazarismo. Neste momento, o poder é exercido por uma força política da direita moderada. A alternativa, e a alternância imediata, é fornecida pela direita radical e populista. O PS transforma-se num “partido bengala” – útil para formar maiorias, como veremos nos próximos tempos, no Parlamento, em sucessivas viabilizações do Governo de Montenegro. Se juntarmos a esta equação a respeitável força da Iniciativa Liberal, teremos o quadro necessário, e legitimado pelo povo, para fazer a reversão total das chamadas “conquistas de Abril”, por via de uma revisão constitucional que incorpore a ideologia das direitas. Tão respeitável, diga-se, como outra ideologia qualquer, mas, até hoje, as revisões resultaram de um equilíbrio entre direita e esquerda democráticas (nunca a esquerda teve uma maioria constitucional). É fundamental que a parte menos à direita garanta que não se toque em direitos como os direitos humanos. E há ameaças: ainda ontem, André Ventura desafiou o PSD a incorporar na “nova Constituição” a prisão perpétua. Juntando a isto, pode acabar-se com o Tribunal Constitucional (ou reverter-se as suas decisões), com a Provedoria de Justiça, com várias entidades reguladoras e também pode mexer-se na lei de imprensa, mudar a fraseologia constitucional que garante um serviço nacional de saúde “tendencialmente gratuito”, etc., etc., etc..
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