O contexto parece ser o de uma tempestade quase perfeita. Nos próximos dias e semanas, pelo menos até às eleições presidenciais nos EUA, a 5 de novembro, o mundo está em alerta vermelho. O que acontecer nos dois grandes conflitos em curso, no Médio Oriente e na Ucrânia, pode, facilmente, influenciar os resultados eleitorais – e as sondagens não apontam, neste momento, para um vencedor claro.
Sabendo-se quem tem preferência por um regresso de Donald Trump à Casa Branca, percebe-se melhor o perigo deste contexto. Benjamin Netanyahu, na sua coligação com forças extremistas, tem feito o que quer, sem nunca respeitar os tímidos apelos americanos para uma contenção ao longo do último ano. Continuando essa escalada, agora com o Irão num horizonte próximo, desafia o ainda presidente Joe Biden e a candidata Kamala Harris, e contribui para que muitos eleitores, sobretudo mais jovens, e de esquerda, defensores (pelo menos no contexto atual) da causa palestiniana, pensem duas vezes antes de votarem nos democratas. Trump diz, com o simplismo a que nos habituou, que rapidamente consegue acabar com esta guerra e “evitar a terceira guerra mundial.” Se a situação piorar ainda mais no Médio Oriente nos próximos dias, muitos americano serão mais sensíveis a esse discurso. E certamente que Netanyahu preferirá Trump como líder americano (recorde-se que foi na sua presidência que a embaixada norte-americana foi, não sem polémica, transferida de Telavive para Jerusalém).
Também Putin (apesar de cinicamente ter chegado a verbalizar o seu apoio a Kamala Harris) tem todo o interesse numa vitória de Trump, pouco sensível à causa ucraniana.