Desde quando é que a lei é igual para todos? No caso da União Europeia, nunca houve grandes dúvidas na resposta. França e Alemanha, os dois países fundadores e donos das duas maiores economias do Velho Continente, sempre ajustaram as normas aos seus interesses, nem que fosse com delicados números de equilibrismo para salvaguardar o (mínimo) bem estar e a dignidade dos estados-membros mais pequenos.
Só que o famoso eixo Paris-Berlim, o inquestionável motor do projeto europeu, dá agora mostras de uma inquietante fragilidade, travestida de uma despudorada arrogância que resulta da delicada situação financeira e política em que os respectivos governos se encontram. Não é a livre circulação de pessoas e bens um dos direitos fundamentais consagrados nos tratados da UE? O Espaço Schengen não é uma das pedras angulares da cidadania no clube comunitário, constituindo a maior área sem controlos fronteiriços do planeta?
Assim sendo, como é possível que a Alemanha tenha discreta e impunemente colocado, a 16 de setembro, dezenas de milhar de polícias a verificar passaportes e a vigiar as zonas raianas com os nove países que a circundam? Não se tratou de um simples capricho do chanceler Olaf Schölz e muito menos de um mero assomo de nacionalpopulismo do líder social-democrata que bate recordes de impopularidade e pretende manter esta medida em vigor até 15 de março de 2025. Depois do ataque reinvindicado pelos terroristas do Estado Islâmico e protagonizado por um sírio, a 26 de agosto, em Solingen, que fez três mortos e oito feridos, o Executivo federal adotou medidas radicais e de emergência: expulsou 28 afegãos, reduziu as prestações sociais às famílias de refugiados, prometeu reduzir as entradas clandestinas de estrangeiros (um quarto dos pedidos de asilo na UE concentram-se em território germânico), acelerou os procedimentos administrativos para a legalização ou expulsão de imigrantes (máximo de cinco semanas) e a ministra do Interior, Nancy Faeser, afiançou que “nenhum estado do mundo pode acolher pessoas de forma ilimitada”.
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