A Itália, o bel paese, o país da dolce vita e que possui o maior número de lugares classificados pela Unesco como património da Humanidade, costuma também funcionar como laboratório das principais tendências sociais e políticas da Europa. Não vale a pena irmos à Antiguidade, aos jesuítas evangelizadores ou a Marco Polo para recordar a importância que a península transalpina teve nas ligações entre o Ocidente e o Oriente. Ou a influência que António Gramsci, o filósofo marxista “do pessimismo da razão e o otimismo do coração”, teve em milhões de jovens do Velho Continente. No pós-guerra, o Partido Comunista Italiano (PCI) era a principal formação de massas fora da Cortina de Ferro e foi alvo de todo o tipo de coligações negativas, como agora se diz, para ficar arredado do poder. Em Roma, as alianças contra natura e de conveniência, quase sempre lideradas por democratas-cristãos, fizeram com que a Itália ainda detenha o recorde europeu de governos (62) e de primeiros-ministros (32) desde 1946. Não é por acaso que Silvio Berlusconi se gabava de ser o mais duradouro dirigente de Itália, depois de Mussolini. Mas não só. O falecido empresário que foi dono do Milan e da Mediaset detém igualmente o título de primeiro grande populista pós-moderno, da mesma forma que Itália conheceu, antes de muitos outros, desafios hoje corriqueiros como a fragmentação partidária, o turismo de massas ou a baixa natalidade.
Voltemos ao laboratório. Esta quinta-feira, em Bruxelas, vai falar-se imenso de Itália, no debate entre os candidatos à presidência da Comissão Europeia. E não é por haver um italiano, Sandro Gozi, na corrida. Aliás, este liberal não tem quaisquer hipóteses de sucesso, face à grande favorita, Ursula Von der Leyen (representante da maior família política da UE, o Partido Popular Europeu (PPE, de que fazem parte o PSD e o CDS), que já ocupa este mesmo cargo desde 2019. Pormenor: a recondução da antiga ministra alemã depende em larga medida dos resultados das eleições para o Parlamento Europeu, em junho, e de Giorgia Meloni.
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