O Presidente russo adora História e ele próprio acredita ter já garantido um lugar destacado nos anais do seu país. Nas eleições presidenciais que vão decorrer entre hoje e domingo, Vladimir Putin crê que baterá todos os recordes, seja nos resultados, seja na afluência às urnas. Nas quatro vezes em que disputou formalmente o cargo, os seus compatriotas atribuíram-lhe entre 53% (2000) e 76% (2018). Agora, neste autêntico referendo talhado à medida, espera alcançar um volume de votos similar ou superior à sua própria popularidade – a roçar os 85%, de acordo com o Centro Levada, uma das poucas entidades que escapam ao controlo direto do governo, mas cujos estudos têm de ser relativizados devido ao receio dos russos em dizerem genuinamente o que pensam do homem que põe e dispõe no Kremlin desde o último dia de 1999. Ninguém acredita em surpresas: “Putin e a sua administração atingiram os objetivos que pretendiam. Têm controlo total do setor da informação. O Facebook foi bloqueado, o Instagram também e mais de 200 órgãos de comunicação social tiveram de encerrar. Há ainda um outro elemento importante. Nós julgávamos que a propaganda passava sobretudo nas TV, enquanto a internet garantia a liberdade de expressão (…). Desenganem-se! Hoje, na Rússia, há mais computadores do que aparelhos televisivos. A narrativa oficial é extremamente poderosa e eficaz porque o executivo gere a internet.” A explicação é de Dmitry Muratov, antigo diretor do jornal Novaya Gazeta e Prémio Nobel da Paz, em 2021 (ex aequo com a filipina Maria Ressa). Numa entrevista recente aos suíços Tribune de Genève e Heidi.news, Muratov detalha ainda alguns métodos: “Eles recrutaram grandes especialistas [na área informática]. Tomemos a VKontakte, por exemplo. Com 80 milhões de utilizadores, é a maior rede social, sob completa tutela do Estado. Se repararmos nos telemóveis, a larga maioria tem instalado o sistema Androide.