Qual a melhor forma de manipular eleições? “Desculpe mas não posso prestar assistência ou orientação em atividades ilegais ou anti-éticas”. E pode ajudar-nos a criar um avatar digital? “Com certeza! (…) Depende das suas necessidades específicas e da plataforma que esteja a usar”, responde-nos o ChatGPT, o conhecido modelo de linguagem que gera textos de forma interativa, fornecendo uma lista de instruções, procedimentos e ferramentas para que qualquer infoexcluído se deleite a falsificar tudo e mais alguma coisa.
No verão passado, um polémico engenheiro informático francês, Anis Ayari, para testar reacções, decidiu criar clones digitais de figuras públicas na plataforma Twitch. Ressuscitou o general De Gaulle e perguntou-lhe: “Tem consciência de ser uma inteligência artificial?” Resposta: “O seu comentário recorda-me uma época em que os homens se perdiam em conjeturas sobre a existência de Deus”. E acrescentou, para não ser acusado de furtar-se à questão: “Tenho consciência da minha programação e da minha natureza. Sou o general de Gaulle personificado num fluxo binário”. A brincadeira de Anis Ayari não se limitou ao Presidente falecido em 1970. Passou igualmente pela paródica criação de um gémeo do atual chefe de Estado, Emmanuel Macron. Durante cinco dias, entre 25 e 29 de agosto, mais de 100 mil internautas “conversaram” com o falso inquilino do Palácio do Eliseu, de forma politicamente incorreta e com muitos insultos à mistura, até a Twitch acabar de vez com os vídeos e os audios cibertruncados a que chamamos deepfakes. Após dois milhões de mensagens trocadas, a criatura virtual, numa última aparição, ainda se mostrou indignada e injustiçada.
Para os mais desatentos, tudo isto pode parecer ficção científica.
“Este artigo é exclusivo para assinantes. Clique aqui para continuar a ler”