Se há pouco mais de um século perguntassem a um governante da Europa o que era o “Médio Oriente”, ele teria dificuldade em responder. Essa expressão é da autoria de um prestigiado almirante dos EUA, Alfred Thayer Mahan, que decidiu designar dessa forma (middle east), em 1902, toda a região que vai da península Arábica até à Índia. Ou seja, o território que, grosso modo, em língua inglesa, ficava entre o “near east” (próximo oriente) e “far east” (extremo oriente). No Velho Continente, por influência do latim e do francês, toda a zona do Mediterrâneo Oriental era vulgarmente conhecida por Levante, mas todos sabemos como a geografia, a história, a religião, os interesses e as relações de poder se misturam na malfadada Terra Santa. É por isso que, na antiga Judeia e na antiga província otomana da Palestina, as crenças e os dogmas têm dado tão maus resultados há tanto tempo. Isto para chegarmos a uma conclusão óbvia. O atual conflito iniciado a 7 de outubro, com os massacres do Hamas a partir da Faixa de Gaza, ainda só agora começou. Andamos há 20 dias a ouvir o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a garantir que a vingança do seu país será terrível e que os responsáveis pelas atrocidades que fizeram 1400 mortos e 5400 feridos israelitas têm os dias contados. Não sabemos ao certo quantos líderes do movimento fundamentalista islâmico já foram abatidos; todavia, não haja dúvidas, alguns têm já o estatuto de mártires. Não é seguramente o caso de Ismail Haniyeh, Khaled Mashal, Salameh Katawi ou Saleh Al-Arouri, todos membros do comité político da organização formada em 1987 para destruir o estado judaico, que vivem tranquilamente no Qatar e, quando lhes apetece ou é solicitado, viajam até Teerão, Ancara ou Moscovo.
A propalada invasão terrestre anunciada pelas autoridades de Telavive, e adiada vezes sem conta por alegados motivos logísticos ou devido aos apelos de Joe Biden e de outros dirigentes internacionais, pode ter outras explicações. Os operacionais da Mossad (serviços de informações externos), o Shin Bet (serviços de segurança interna) e a Amal (secreta militar) estão no terreno e no encalço de todos aqueles que consideram “animais” e “terroristas” – seja o quarteto mencionado acima, seja Mohammed Deif e Marwan Issa, os líderes das brigadas Ezzedine Al-Qassam (braço armado do Hamas), seja qualquer oficial da Nukhba (os soldados de elite que terão cometido a maior parte dos crimes em Sderot, Kfar Aza ou Reim).