Há 100 anos que não se via nada igual – e só isso já é razão suficiente para abrir esta newsletter matinal com a onda de estupefação que varreu a política dos EUA na última noite, enquanto a Europa dormia. Aquele que parecia ir ser um dia de celebração para o Partido Republicano, com a reconquista da presidência da Câmara dos Representantes, após quatro anos de domínio democrata, acabou por se tornar numa jornada de pesadelo e confusão. E mais: foi um dia também revelador sobre o que pode acontecer aos partidos conservadores quando se deixam capturar, mesmo que parcialmente, pela direita mais radical, sempre mais interessada em criar caos e descrédito nos processos democráticos, do que em preservar as instituições.
Em três votações sucessivas, o senador republicano Kevin McCarthy, que era visto como o candidato incontestado e consensual, foi derrotado na eleição para “speaker” da Câmara dos Representantes, onde iria substituir a icónica Nancy Pelosi e, em simultâneo, tornar-se a terceira figura mais importante da política norte-americana. Por três vezes, de nada lhe valeu o seu Partido Republicano ter a maioria na câmara: 222 eleitos contra 212 dos democratas. Isto porque, nas três votações, duas dezenas de representantes da ala mais radical do partido – mais radical ainda do que Donald Trump, segundo muitos relatos – recusaram dar o seu voto aquele que consideram ser um líder demasiado brando.
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