Primeiro pecado: erros de orgânica. Segundo pecado: descoordenação. Terceiro pecado: fragmentação interna. Quarto pecado: inação. Quinto pecado: falta de transparência. Sexto pecado: descolagem da realidade. Estes são os seis “pecados” que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, consideraria mortais, se por acaso, o Governo os cometesse. Não é para mim: é para um amigo. Na sua mensagem de Ano Novo, transmitida este domingo à noite, Marcelo enumera as falhasteoricamente possíveis que levariam o Governo a “enfraquecer” ou a “esvaziar” a estabilidade, no País. Esse enfraquecimento, enfatiza o Presidente, “só o Governo o pode provocar“. Isto é: não tem desculpas. António Costa dispõe de maioria absoluta, o que lhe confere, diz Marcelo, “responsabilidade absoluta”. Ora, por uma infeliz coincidência, “erros de orgânica”, “descoordenação”, “fragmentação interna”, “inação”, “falta de transparência” e “descolagem da realidade” são, com estas palavras exatas, os exatos defeitos que a oposição, os observadores políticos, vários cientistas políticos e comentadores e, até, algumas figuras do próprio PS têm apontado ao Governo e à sua maioria absoluta, depois de uma sucessão de casos e de onze demissões. Fora de brincadeiras, isto não é um aviso: isto é um diagnóstico. Do mesmo passo, o PR confessa que não pode fazer nada, a não ser “não perdoar”: “Nunca me cansarei de insistir que, se desbaratássemos [nomeadamente, a aplicação de “fundos europeus irrepetíveis e de prazo bem determinado”], isso seria “imperdoável“. Mas, nas linhas seguintes, a confissão de impotência: este “será o único ano, até 2026, sem eleições nacionais ou de efeitos nacionais”. Portanto, com perdão ou sem ele, Costa continua a Governar.
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