Desde a madrugada de 11 de setembro que os vulcanólogos do Instituto Geográfico de Espanha (IGME) andavam num tremendo frenesim. Até às 15 horas e 12 minutos deste domingo registaram perto de 25 mil eventos sísmicos, quase todos de baixa intensidade, na ilha de La Palma e nas respetivas imediações, no Atlântico. À cautela, na passada sexta-feira, Miguel Ángel Morcuende, o diretor técnico do Plano de Emergências Vulcânicas das Canárias (PEVOLCA), anunciou que cinco municípios (Tazacorte, Fuencaliente, Mazo, El Paso e Los Llanos) iriam ficar em estado de alerta por haver uma forte possibilidade de tremores de terra “mais intensos” e de uma erupção na zona de Cumbre Vieja, na parte sul da ilha. Na ocasião, advertiu ainda que o semáforo de quatro cores, em função do risco, passaria de verde para amarelo, mas que as circunstâncias poderiam igualmente fazer com que fosse adotado o laranja ou o vermelho. Acertou em cheio. Ontem à tarde, as autoridades do arquipélago decretaram o estado de emergência máxima e mais de cinco mil pessoas tiveram de abandonar as suas casas e os hotéis onde estavam alojadas. Tudo decorreu sem pânico e de forma ordeira porque a erupção se deu numa zona não habitada. O Governo do país, liderado pelo socialista Pedro Sánchez, manifestou imediata disponibilidade para mobilizar todos os meios necessários para enfrentar a crise e deu ordem de marcha para as Canárias a vários especialistas da Proteção Civil e à Unidade Militar de Emergências.
Por curiosa coincidência, a última erupção verificada em La Palma ocorreu há quase meio século, a 26 de outubro de 1971, e durou 23 dias. Na altura, apesar dos prejuízos materiais, registou-se apenas uma vítima mortal, um turista que inalou gases tóxicos por se aproximar indevidamente do Teneguía, o vulcão que não rugia desde 1677. Nas últimas cinco décadas, o Teneguia e o parque de Cumbre Vieja têm sido objeto de muitos estudos e especulação. Já no início deste século, um documentário da BBC alertava para a possibilidade deste local provocar um megatsunami no Atlântico, devido a um aluimento da parte sudoeste da ilha, na sequência de um sismo ou de uma grande erupção vulcânica.