Com Portugal a liderar o pódio mundial da vacinação contra a Covid-19, as atenções começam agora a centrar-se na gripe, cujo plano vacinal começa dentro de duas semanas e mantém-se na sombra das medidas ainda em vigor para combater a propagação do SARS-CoV-2.
A aprovação de uma dose adicional contra a Covid-19 em pessoas com mais de 16 anos com imunossupressão levanta dúvidas quanto ao potencial risco de esta coincidir com a toma da vacina da gripe. Na mesma situação estão também as grávidas, que fazem parte da lista de prioridades para a vacina da gripe, mas cuja vacinação contra a Covid-19 acontece a ritmos diferentes. Para que não restem dúvidas, vamos às explicações.
Quem vai tomar a terceira dose da vacina contra a Covid-19?
No início de setembro, a Direção-Geral da Saúde (DGS) deu ‘luz verde’ para a toma da terceira dose da vacina contra a Covid-19 por parte de pessoas com mais de 16 anos com imunossupressão – doentes oncológicos, pessoas com infeção VIH com contagem de linfócitos T-CD4+ <200/µL, portadores de algumas doenças auto-imunes e pessoas que realizaram transplantes de órgãos sólidos.
Para justificar a toma de uma terceira vacina, a DGS baseou-se em dados que indicam que a eficácia das vacinas pode ser inferior em pessoas com o sistema imunitário comprometido. Deste modo, “a dose adicional é recomendada, como parte do esquema primário, para pessoas que podem não ter alcançado o nível de proteção”, já que “a evolução do conhecimento científico sugere que a administração de uma dose adicional potencia a resposta imunológica”. A vacinação destas pessoas com uma dose de vacina de mRNA “deve ser efetuada sob orientação e prescrição do médico assistente” e acontecer “com um intervalo mínimo de três meses, após a última dose do esquema vacinal anteriormente realizado”, anunciou o organismo.
No final de agosto, a Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) veio alertar para a necessidade de incluir os idosos no leque de elegíveis para a terceira dose contra a covid-19 em outubro e novembro, em simultâneo com a vacina da gripe. Graça Freitas revelou recentemente em entrevista que está em cima da mesa a hipótese de inocular os mais idosos com uma dose adicional, reforçando, assim, a imunidade. No entanto, não houve ainda qualquer alteração nas recomendações até agora feitas.
Quem é elegível para tomar a vacina da gripe?
Dos grupos prioritários para a toma da vacina da gripe encontram-se as grávidas e as pessoas que são elegíveis para a toma de uma terceira dose da vacina contra a Covid-19, como é o caso dos “doentes com mais de seis meses e que apresentem doenças crónicas ou imunitárias”. As pessoas com 65 anos ou mais, sobretudo se residentes em lares ou outras instituições, fazem também parte do grupo prioritário.
O caso das grávidas
Apesar de não estarem na lista de pessoas elegíveis para uma dose de reforço contra a Covid-19, as grávidas fazem parte dos grupos-alvo para a vacinação contra a gripe, estando incluídas na primeira fase do processo.
Uma vez que a data de vacinação contra a Covid-19 varia de caso para caso, mais concretamente do tempo de gestação (a inoculação contra é aconselhada a partir das 21 semanas de gestação e após a realização da ecografia morfológica), é possível que tanto a vacina contra a Covid-19 como a vacina da gripe possam coincidir na mesma data ou em datas próximas, no entanto, uma vez que não há limite para a toma da vacina contra a covid-19 durante a gravidez, esta poderá ser administrada numa altura em que não haja conflito de agenda com a vacina da gripe. No entanto, importa ressalvar, todas as grávidas deverão primeiro consultar um médico e ver qual o cenário mais indicado para cada caso.
De qualquer modo, a DGS defende que “a vacinação contra a Covid-19 na grávida deve respeitar um intervalo mínimo de 14 dias em relação à administração de outras vacinas, tais como a vacina contra a tosse convulsa (Tdpa) e a vacina contra a gripe”, lê-se na Norma nº 002/2021, atualizada a 1 de setembro deste ano.
Proximidade entre as duas vacinas
A nível clínico, não são conhecidas contra-indicações referentes à toma das duas vacinas. A própria DGS, na página de esclarecimento sobre a vacina contra a Covid-19, já garantiu que se o indivíduo for “elegível para ambas as vacinas [Covid-19 e gripe], deve ser vacinado com as duas. Estas devem ser, se possível, administradas separadamente, com um intervalo de pelo menos duas semanas”.
À VISÃO, os especialistas dizem que, à partida, não há incompatibilidade em tomar as duas vacinas se se respeitar o tempo de espera entre a toma de uma e a toma de outra, mas apelam à prudência, pois, o recomendado é esperar, pelo menos, 14 dias entre a toma de vacinas.
Também lá fora há recomendações para que uma vacina não invalide a outra. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos quer que todas as pessoas com mais de seis meses sejam vacinadas contra a gripe, mesmo que ainda estejam a completar o plano de vacinação contra a Covid-19. No entanto, uma terceira dose já está a ser administrada nas pessoas imunocomprometidas. William Schaffner, diretor da Fundação Nacional para Doenças Infecciosas, defende que é “terrivelmente importante” administrar a vacina da gripe e da covid nas próximas semanas, cita o Washington Post.
No que diz respeito a conflitos de agenda, estes, sim, podem acontecer. Mas são de fácil resolução: uma vez que tanto a terceira dose para os imunossuprimidos como a primeira dose para as grávidas não se regem por datas fixas (a dose adicional deve acontecer após três meses da segunda inoculação e as grávidas podem tomar a vacina contra a covid-19 a partir das 21 semanas de gestação, não existindo idade gestacional limite para o início da vacinação), estão reunidas as condições para que seja feito um planeamento adequado para garantir as duas semanas de espera entre as vacinas. A VISÃO tentou entrar em contacto com a DGS para saber se estão a ser ponderadas medidas para que não haja conflito entre as duas vacinas, mas não obteve resposta até à conclusão deste artigo.
Conclusão
FALSO
Quem tomou a vacina contra a Covid-19 recentemente pode tomar a da gripe desde que haja um período de espera de 14 dias e a pessoa seja elegível para ambas, tal como refere a Direção-Geral da Saúde. Além do mais, a vacina da gripe não oferece apenas uma maior imunidade e proteção contra o vírus influenza, estudos recentes têm já apontado o seu potencial protetor contra efeitos severos da Covid-19. Um dos estudos, publicado no mês de agosto, revela que as pessoas que tinham tomado a vacina contra a gripe apresentavam uma probabilidade significativamente maior (até 20% mais) de serem admitidas nas unidades de cuidados intensivos. Os não vacinados contra a gripe eram 58% mais propensos a ter de ser consultados de urgência, desenvolver sépsis (até 45% mais probabilidade), ter um AVC (até 58% mais probabilidade) e uma trombose venosa profunda (até 40% mais provável).
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