Mezze lembra mesa, mesa lembra comida, mas Mezze pode traduzir-se por petiscos. Foi o nome escolhido para um projeto de “inclusão e integração”, sobretudo de mulheres e jovens refugiados sírios acolhidos em Portugal, que vão agora gerir um restaurante.
As “mãos carregadas de histórias e de muita esperança numa nova vida” vão dar ‘corpo e alma’ ao restaurante, em Lisboa, o primeiro em Portugal completamente gerido por um grupo de refugiados sírios, sob orientação da Associação Pão a Pão.
O projeto está a ganhar forma “desde há um ano”, contou à Lusa Francisca Gorjão Henriques, da associação, explicando que os 15 mil euros para o pontapé de saída estão quase a ser angariados através da campanha de crowdfunding a decorrer na internet.
A ideia, explicou, é montar um restaurante para “integrar refugiados do Médio Oriente, no qual sobretudo mulheres e jovens vão trabalhar e colocar em prática as competências que já trazem, pois muitos deles já sabem cozinhar”.
Ainda assim, vão receber formação: “No fundo, é valorizarmos o património que trazem, proporcionar essa transmissão da sua cultura, que não é assim tao conhecida em Lisboa e Portugal como seria de esperar”.
Foi devido ao pão que a ideia do Mezze começou a ganhar forma e foi através de uma conversa com uma estudante síria de arquitetura, que se encontra em Portugal ao abrigo da plataforma de apoio a estudantes sírios do ex-Presidente Jorge Sampaio, que tudo começou.
“Ficámos a saber que do que ela tinha mais saudades da Síria era do pão. Não há pão árabe à venda em Lisboa e há muito poucos restaurantes de comida do Médio Oriente na capital e achámos que havia qualquer coisa para fazer”, contou Francisca Henriques.
Chegar até à ideia de que a partilha à mesa era a forma “mais fácil de integrar e acolher” foi outro passo. No Mezze será feito pão árabe e vários petiscos e pratos como yalanji, fattoush, kibbeh, hummus ou baklava.
Na página de crowdfunding em que é explicado o projeto refere-se que Fatima, Mouna, Reem, Rafat, Luei e Shiraz tiveram de sair da Síria e estão, como outros refugiados, “prontos para começar a trabalhar no Mezze e partilhar a riquíssima gastronomia do Médio Oriente”.
Segundo Francisca Henriques, haverá no restaurante espaço para ‘workshops’ de gastronomia, dança, escrita e debates.
“A importância dos workshops para nós é bastante grande, porque permite uma aproximação e um diálogo que é fundamental para as pessoas se conhecerem, para que os refugiados que estão a chegar possam dialogar com a comunidade que os acolhe”, explicou.
O Mezze vai funcionar no Mercado de Arroios. O espaço ainda necessita de obras e só deverá abrir portas ao público em final de maio.
Numa primeira fase vão estar 15 pessoas a trabalhar no restaurante, algumas a tempo inteiro, outras em ‘part-time’.
A Associação Pão a Pão foi formada para dar apoio aos refugiados e a ideia é replicar depois o restaurantes pelo país, “sempre que houver um grupo de refugiados que possa levar para a frente o projeto e sempre que haja uma comunidade que o acolha”.
O Mezze é um projeto direcionado a mulheres e jovens, considerados “grupos de risco”, pois a maioria “não tem experiencia profissional, enquanto os “jovens ficaram com os estudos interrompidos devido à guerra”.
“São dois grupos que correm risco de exclusão. Por isso, este é um projeto de integração, mas aquilo que nós queremos, o principal objetivo é a inclusão que fazemos através da empregabilidade e através da partilha das duas culturas, da cultura de acolhimento e aquela que é trazida pelos refugiados”, sublinhou a associação.