Tinha o sonho de jogar na Europa desde criança e a oportunidade surgiu pelos piores motivos. A guerra que levou ao êxodo de milhões de refugiados na Síria trouxe Anas Alaji para o futebol português. Diz-se admirador de Cristiano Ronaldo, mas o seu jogador favorito é o argentino Di María.
O primeiro sírio a jogar em Portugal percorreu um longo caminho até Vila das Aves. Teve mais sorte do que a maioria dos seus compatriotas e pôde viajar com documentos válidos e de avião. Foi de Damasco para Beirute, de onde partiu para a Turquia. Lá, esperou duas semanas em Istambul, em casa de familiares, pelo visto para viajar para Portugal.
Durante esse período, o jovem sírio esteve a treinar-se no Beşiktaş e teve de resistir à pressão de familiares para ficar na Turquia. O jogador não cedeu e veio mesmo para Portugal para jogar pelo Desportivo das Aves.
Anas confessa que não foi fácil ser jogador num país em guerra. Ainda assim, conseguiu ajudar a seleção a alcançar bons resultados no Mundial Sub-17. Não fala português nem inglês, o que torna a integração um pouco mais difícil, mas está disposto a ultrapassar a barreira linguística para poder adaptar-se a esta nova realidade.
O treinador, Ulisses Morais, elogia as qualidades e o carácter do jogador, que cresceu atravessando períodos “extremamente difíceis” na sua vida.
Anas vive com outros jogadores estrangeiros do clube e usa o computador para falar com a família na Síria, que diz viverem numa zona sem problemas. Não se considera um refugiado, apenas um futebolista. Quer dar o seu melhor e honrar o seu país. Ainda que à distância.