Foi como uma homenagem que Eduardo Morais concebeu o documentário Uivo, sobre a vida do radialista António Sérgio, grande divulgador da música dita alternativa em Portugal.
O realizador, de 28 anos, conhecia o mito, mas pouco sobre a pessoa e nem cresceu a ouvi-lo, durante as décadas de 80 e 90, quando programas como Rolls Rock, Rotação, Lança Chamas ou Som da Frente formavam os gostos musicais de muita gente de várias gerações. A concretização só foi possível graças ao contributo dos amigos e fãs de António Sérgio, através do sistema de crowdfunding, ao qual Eduardo já tinha recorrido para fazer o filme anterior, Música em Pó, sobre os colecionadores de discos em vinil. “Pedi 900 euros, o que acabou por se revelar pouco”, lembra o autor, que trabalhou num bar para financiar o resto do projeto.
Para Uivo (título que faz referência ao último programa de António Sérgio, A Hora do Lobo, na Radar), colocou €3 mil como limite mínimo para poder trabalhar exclusivamente no filme durante seis meses. Não demorou muito a atingir esse objetivo. “Essa resposta provou a dimensão do António Sérgio”, diz. Depois da estreia, a 1 de novembro, numa sessão especial em Lisboa, Eduardo anda agora em digressão pelo País, com o Uivo às costas. “Pareço um daqueles cinemas ambulantes do século passado, de terra em terra.” Entretanto, tem já outros projetos e não põe de parte a possibilidade de voltar a recorrer ao crowdfunding. Com muito sentido de responsabilidade: “O facto destas pessoas confiarem no nosso trabalho, ao ponto de nos darem dinheiro para o realizar, provoca uma grande pressão. Temos de provar que o merecemos.”