Chegamos ao momento em que a inovação e a atitude empreendedora começaram a infiltra-se positivamente na intervenção social. De forma ainda pouco generalizada, é certo, mas assumidamente corajosa com novos atores que aliam a capacidade de pensar, inovar e agir, mediante um problema social. Ou seja, um problema de todos nós. Penso que o empreendedorismo social irá definir o futuro da intervenção social e, possivelmente, parte do nosso sistema económico neste século.
Os empreendedores e as empreendedoras sociais movem-se com um claro sentimento de que a qualidade positiva da “minha vida” se relaciona com a qualidade positiva do “meu contributo” que resulta na qualidade positiva de vida do “outro”. Daí surgem respostas que, mais do que tornarem as pessoas dependentes e os projetos pouco sustentáveis ou dentro de um impasse crónico, procuram desenvolver autonomia e capacitação. No empreendedorismo social não se pertente “manter o problema”, pretende-se aprender, inovar, adaptar e finalmente mudar, na escala que cada situação permita essa mudança. Por vezes, mudamo-nos mais a nós do que à situação, o que também é muito útil.
Muitos dos empreendedores e das empreendedoras sociais começaram por atividades simples de voluntariado numa organização. Entretanto, começaram a questionar problemas e a desenvolver projetos. O “voluntariado empreendedor” pode ser um campo importante de desenvolvimento do empreendedorismo social. Uma espécie de pré-laboratório para empreendedores e empreendedoras sociais. Foi assim que comecei.
As ferramentas do empreendedorismo social não são muito diferentes do empreendedorismo, da gestão e de outras competências já utilizadas numa situação empresarial. Mas aqui, estas competências são adaptadas e, muitas vezes, empregues por pessoas que pela sua formação de origem e percurso de vida seriam improváveis atores e empreendedores sociais. Este é, talvez, o grande segredo de sucesso do empreendedorismo social. A diversidade de pessoas que “saíram da caixa” e que com diferentes capacidades, competências, significado e visão, decidem dar efetivamente o seu contributo positivo.
Mas é importante que não nos deixemos “contaminar” com tantas técnicas, competências, e com enorme gestão que na vida empresarial está direcionada para o lucro e eficiência mecanizada. As competências e técnicas podem ser importantes, e têm vantagens de utilização, mas devem servir os problemas encontrados mediante valores éticos e desenvolver uma economia socialmente solidária em vez de se tornar em mais um sistema pouco alternativo. O empreendedorismo social deve refletir a sua ética e raiz para sabermos que rumo estamos a tomar e percebermos se este é de facto “social” ou apenas “empresarial disfarçado”. A ética e o mundo empresarial capitalista, não se fundem facilmente. Se é que se fundem.
No entanto, estou bastante empolgado com o que serão as próximas décadas no tema do empreendedorismo social e certo de que parte da resolução dos nossos problemas e do tipo de economia que teremos passará por este tema. Estou igualmente otimista pois tenho encontrado bastantes jovens com projetos e visões socialmente empreendedoras.
Por último e muito importante: os empreendedores e as empreendedoras sociais nunca devem perder o significado e sentido da sua ação. Esta é a sua grande fonte de energia.