Terminei uma amizade colorida com um ex colega de trabalho. Durou alguns meses e foi muito bom. Quando ele foi destacado para outra delegação da empresa e descobriu os encantos daquela que é agora a namorada, eu sai de cena e segui em frente. Pelo menos, assim pensei. Acontece que continuo a acompanhar os posts dele, mesmo que tenhamos deixado de contactar-nos, por iniciativa minha. Embora não troquemos mensagens – nem telefónicas nem no chat – sigo-lhe os passos, ando sempre a ver as notificações e isto está a tornar-se rotina. Uma amiga diz que eu estou a ficar obsessiva. A ideia era seguir em frente e encontrar outra pessoa, mas parece que estou atracada a esta. Como mudo a situação?
Não sendo uma situação desesperada, é motivo de preocupação, sim. A primeira questão: o que a leva a seguir o seu ex amigo colorido? A segunda: já lhe aconteceu mais vezes (ter dificuldade em deixar ir alguém de quem se sentiu próxima, via flirt ou relacionamento mais profundo)? A terceira: costuma ter dificuldade em terminar relacionamentos que a colocam numa posição desvantajosa (“a outra”)? Se às três questões a sua resposta for sim, está na hora de rever o seu estilo de amar. Ou na hora de “pegar na sua cana e aprender a pescar”, sem ficar presa ao peixe que navega agora noutro rio.
Sobre o estar, ou não, atracada e/ou obsessiva: é possível que se coloque “na boca do lobo”, ou seja, se ponha a jeito para sofrer e impedir-se de seguir em frente, colocando-se “à mercê” de alguém – um amor que terminou, uma expectativa que não se cumpriu, etc – com a secreta esperança de um dia voltar a ser “desejada”, “resgatada” ou “reconhecida”. Embora esse comportamento de vigilância lhe traga a ilusão de controlar à distância o que ele faz ou deixa de fazer com outras pessoas, deixa-a a “chuchar no dedo”, no papel de voyeur ou, na pior das hipóteses, de masoquista.
Uma investigação britânica (Tara Marshall) com utilizadores de redes sociais que mantinham contacto com os seus ex revelou que essa exposição, em ambiente real ou virtual, raramente favorecia o luto da relação terminada, dificultando ainda a disponibilidade emocional para novos parceiros. Lembra-se do ditado “Para grandes males, grandes remédios”? Se a sua intenção for mesmo fazer um “restart” à sua vida afetiva/sexual, talvez seja boa ideia “desamigar” o seu ex e, de caminho, desligar por uns dias o sistema de notificações do seu móvel. Se nada disto conseguir fazer, recomenda-se a procura de ajuda profissional, já que ninguém se mantém num estado psicologicamente saudável se insistir na politica do “disco riscado” (mesmo na era do digital…)
Clara Soares, jornalista, psicóloga e autora do blog Psicologia Clara