Terminei uma relação de dois anos com uma rapariga há alguns meses e, confesso, tem sido muito difícil estar sozinho.
Já vivíamos juntos e eu não estou habituado a estar solteiro. Tenho tido alguns relacionamentos ocasionais.
Recentemente, envolvi-me com uma amiga recente. Ao princípio, era mesmo um escape, uma compensação. Depois comecei a pensar que estava apaixonado por ela. Agora, já não sei qual é a verdade. Estamos numa fase de amigos coloridos, mas eu queria perceber se vale a pena dar o passo seguinte ou se devo ficar por aqui.
Não gosto desta instabilidade e queria ter a certeza do que sinto. Há alguma coisa que eu possa fazer para clarificar os meus sentimentos?
Não há verdades absolutas e em matéria de sentimentos, menos ainda. A resposta passa sobretudo, por aquilo que sente a cada momento. Numa relação, seja de que tipo for, aplica-se a fórmula “1+1=3”, ou seja, o “eu”, o “tu” e aquilo que resulta dessa combinação, seja química ou alquímica! Quero com isto dizer que o resultado das interacções – o todo – é sempre algo mais que a soma das partes, como sucede, de resto, em todo e qualquer sistema vivo (neste caso, a vossa ligação).
Começando pelo “eu”, e as partes que o formam. Nessa equação cabem o desejo, os medos ou inseguranças, as preferências (modos de estar, interesses específicos), as memórias (o que se filtrou de experiências conjuntas prévias, “boas”, “assim-assim”, etc) e o sonho (o que quer num projecto a dois). Quando está com uma pessoa que não lhe é indiferente – ou lhe diz alguma coisa que o leva a repetir os encontros – tudo isso vai consigo e tem uma ressonância própria. A melhor maneira de “lê-la”, ou descodificá-la, é estar atento ao que o seu corpo e reacções emocionais lhe revelam.
Mais do que avaliar racionalmente se vale a pena dar o passo seguinte, como se de um exercício de matemática se tratasse, é preferível aferir os tipos de alterações que estão a ter lugar fora da sua cabeça (o corpo não é apenas o veículo que transporta a mente!). O coração fica “mais quente” ou mais calmo e com batimentos harmónicos? Que tipo de experiência afectiva surge, associada às vossas interacções? As conversas fluem naturalmente? Há espontaneidade e sabor nas actividades conjuntas? Há equilíbrio entre a fala e os gestos? Há tempo e lugar falar e para ouvir (ou ser ouvido)?
Se a parte destas questões, ou a boa parte delas, a sua resposta for sim – e se essas impressões forem sendo acumuladas no tempo, retirando delas uma atmosfera de agrado e de acolhimento, somadas à vontade de continuar no processo – resta-lhe questionar-se acerca do que o impede de avançar. Como disse, o que hoje lhe parece poder ser arrumado numa gaveta (a amiga e algo mais), pode, no processo, transformar-se em algo diferente do que lhe parecia inicialmente. O que tem a fazer, nesse caso, é abrir o jogo, e experimentar novas facetas de si e proceder aos ajustes que entender. Individualmente, claro, mas também – e sobretudo – a dois. Em tudo o que é novo e requer aprendizagem, os pormenores fazem a diferença.
A escolha é sempre um risco. Mas a não escolha também. Boa sorte.