A conclusão é do estudo Literacia social: os valores como fundamento de competência, levado a cabo pela Universidade Católica Portuguesa e pelo Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano.
À questão sobre a importância de ajudar os outros, 86,5% dos inquiridos com o 1.º ciclo respondeu afirmativamente. No caso dos licenciados, mestres e doutorandos a percentagem desde para 53,1%.
“Quanto mais avançamos nos níveis de instrução, do 1.º ciclo até ao ensino superior, a importância da justiça e da solidariedade vai baixando progressivamente. São os mais instruídos e os mais ricos que desvalorizam a justiça e a solidariedade”, afirmou o autor do estudo, Lourenço Xavier Carvalho, à agência Lusa.
Esta correlação negativa cria um “problema estrutural de democracia”, já que “os que mais instruções têm são os mais propensos a ocupar lugares de liderança”.
A mesma investigação conclui que são as pessoas com o 2.º ciclo que mais valorizam a luta por uma causa justa, 86,2%, contra os 56,9% daqueles que concluíram o ensino superior.
Na opinião de Loureço Xavier de Carvalho, o modelo atual de ensino é um dos fatores que justifica este resultado: “Continuamos a educar para o domínio material, para o domínio técnico, queremos formar profissionais competentes, que dominem bem as técnivas de cada área, e os currículos são cada vez mais técnicos. Mas na realidade não é isso que faz as pessoas mais ou menos felizes. É a dimensão humana, relacional, que está cada vez mais afastada dos currículos”.
Curiosamente, o inquérito revela que os portugueses mais infelizes são os que têm rendimentos mais baixos (menos de 500 euros mensais), mas também os que recebem acima de 4 mil euros.
Independentemente do estrato social e cultural, mais de 90% dos inquiridos consideraram a família uma prioridade e a instituição pela qual estão dispostos a fazer mais sacrifícios.
“[…] Houve aqui uma ilusão de que o dinheiro, o prestígio, o estatuto, o poder, poderia resolver os problemas todos”, afirma Lourenço Xavier Carvalho antes de acrescentar: “Afinal, o que resolve os problemas é a proximidade à família, são as relações harmoniosas, amar e ser amado”.