Cerca de metade da comida produzida no mundo vai para o lixo. Quem o diz é Isabel Soares, 30 anos, engenheira do ambiente e especialista em energias renováveis, atualmente a viver em Barcelona. É ela a mentora do Fruta Feia, um projeto que conquistou o segundo lugar do concurso FAZ Ideias de Origem Portuguesa, apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Quando regressar a Portugal, pretende, conforme explica à VISÃO Sete, dedicar-se a tempo inteiro a lutar contra o desperdício alimentar que, no nosso país, “ascende a um milhão de toneladas de alimentos por ano”.
Isabel Soares partilha este combate com a restante equipa do Fruta Feia: Inês Ribeiro e Francisco Gonçalves (ambos engenheiros), Sara Santos (responsável pelo design), Ana Carvalho ( jurista) e João Veríssimo (informático).
Fala da preferência dos grandes canais de distribuição por frutas e legumes “perfeitos, em termos de formato, cor e calibre”, contrapondo que “tal preferência nada tem a ver com questões de segurança e de qualidade alimentar a qualidade não se julga pela aparência”, argumenta.
A ideia é criar uma cooperativa de consumo para canalizar os produtos horto-frutícolas.
Para serem sócios, os clientes terão de pagar uma quota anual de cinco euros. E, uma vez por semana, os sócios da cooperativa do Fruta Feia podem levantar a sua cesta com legumes e frutas da época. Este dia coincidirá com o da recolha nas explorações agrícolas. Para já, foram selecionados cinco produtores da região de Lisboa e Vale do Tejo, que, atualmente, tentam escoar os seus produtos para a indústria de sumos.
A cooperativa praticará preços, garante Isabel Soares, inferiores ao da fruta normalizada.
Será estabelecido um valor fixo por quilo e estarão disponíveis três tamanhos de cestas (3, 5 e 7,5 quilos). Em setembro, o projeto já se encontrará numa fase mais desenvolvida. O seu slogan: “Gente Bonita Come Fruta Feia”.
Casa-piloto
A Casa Independente, um projeto artístico da Ironia Tropical, localizado no Largo do Intendente, em Lisboa, que tem como objetivo recuperar os hábitos das antigas coletividades, será utilizada para o projeto-piloto da Fruta Feia. Vai ser aqui que, a partir de setembro, um dia por semana, os sócios da cooperativa poderão recolher as suas cestas com legumes e frutas. Mas a ideia, avança Isabel Soares, coordenadora do Fruta Feia, “é ir replicando posteriormente o conceito e modelo noutras regiões do País”.