Avaliando o percurso de Quincy Jones, aquilo que para mim tem mais impacto é a sua imensa inteligência musical. Conseguia olhar para artistas de áreas diferentes e exponenciar ao máximo as suas qualidades. Fez isso como ninguém. Olhando para os irmãos Jackson viu o grande potencial de Michael Jackson. Todos sabem que ele produziu o Thriller, mas produziu também um disco anterior, Off the Wall, em 1979, e outro posterior, Bad, em 1987.
Trabalhou imenso, tinha uma assustadora capacidade de produção, uma grande facilidade em escrever. Compôs muito, por exemplo, para televisão e cinema.
A partir de certa altura, todos queriam trabalhar com ele. Entre muitos nomes recordo, por exemplo, Ray Charles, seu amigo, e Frank Sinatra. Tinha mesmo uma espécie de toque de Midas… E acho que isso acontecia, lá está, porque sabia reconhecer as melhores qualidades de determinado artista e fazê-las brilhar. Ao mesmo tempo, era muito eficiente: na música pop vender bem é sempre um objetivo e ele conseguiu muitas vezes ser certeiro.
E tudo começou com um percurso como trompetista… Não há muita gente a fazer isso tudo tão bem – tocar, compor, produzir. E foi brilhante numa carreira muito longa… Marcou a música na segunda metade do século XX, e mesmo no início do XXI.
*Mário Laginha
Músico. Em 2024 voltou aos palcos com Pedro Burmester. Um regresso da dupla de pianistas – Mário mais do jazz, Pedro da clássica – em nome da “liberdade” nos 50 anos do 25 de Abril