As bactérias-espelho são organismos sintéticos cuja estrutura molecular é inversa à encontrada na natureza e um grupo de 38 cientistas de nove países avisa, num artigo publicado na Science, que isso pode pôr plantas, animais e humanos em risco de exposição a patógenos perigosos.
Apesar de a ciência ainda estar a anos, uma década possivelmente, da potencial criação destes organismos, os cientistas temem que este novo campo de investigação represente riscos “sem precedentes”, que estão a ser “desvalorizados”. A não ser que seja provado que os riscos não são tão extraordinários assim, estes especialistas defendem mesmo que seja proibida a investigação neste campo.
“Movidos pela curiosidade e pelas aplicações plausíveis, alguns investigadores começaram a trabalhar na criação de formas de vida compostas inteiramente por moléculas biológicas espelhadas. Tais organismos constituiriam um afastamento radical da vida conhecida e a sua criação exige uma consideração cautelosa”, escrevem.
Do grupo de cientistas “profundamente preocupados” fazem parte vencedores de Prémios Nobel, como Greg Winter e Jack Szostak, e Craig Venter, o americano que liderou o esforço privado para sequenciar o genoma humano na década de 1990. Na base do artigo, que inclui ainda, entre os autores, especialistas em imunologia, biologia evolucionária, biossegurança e ciências planetárias, está um relatório técnico de 300 páginas elaborado pelo J. Craig Venter Institute
“É um génio que não queremos deixar sair da lamparina”, resume Jonathan Jones, do The Sainsbury Laboratory, em Norwich, Reino Unido, que explica que o que está em causa não é a probabilidade de acontecer algo mau, que “é baixa”. “Mas as consequências de acontecer algo mau são realmente terríveis”, insiste.
Os riscos
Os sistemas imunitários reconhecem formas moleculares específicas dos organismos invasores. Se as suas formas estiverem espelhadas, esse reconhecimento fica prejudicado e a defesa pode falhar, deixando-nos, e a outros seres vivos, vulneráveis a infeções.
“Não podemos excluir um cenário em que as bactérias-espelho ajam como espécies invasoras em vários ecossistemas, provocando infeções letais e perversas numa fração substancial de espécies de plantas e animais, incluindo humanos. Mesmo uma bactéria-espelho com um alcance menor e capacidade para invadir apenas um conjunto limitado de ecossistemas poderia causar danos irreversíveis e sem precedentes”, alertam os cientistas.
Os investigadores duvidam ainda que este tipo de organismo possa ser contido com segurança ou mesmo ser mantido sob controlo através dos processos naturais de seleção.