Num artigo de opinião publicado esta quinta-feira no Diário de Notícias, José Sócrates reiterou que a Operação Marquês teve como objetivo evitar que o antigo primeiro-ministro se candidatasse à Presidência da República e impedir que o PS vencesse as eleições de 2015. “O processo Marquês nunca foi um processo judicial, mas uma armação política – impedir a minha candidatura a Presidente da República e evitar que o Partido Socialista ganhasse as eleições legislativas de 2015. A única diferença face ao recente Processo Influencer é que, há 10 anos, não se esqueceram de escolher o juiz. A diferença que faz escolher o juiz”, pode ler-se.
De acordo com o mesmo, não existe acusação (anulada em 2021) ou pronúncia (anulada em 2024) no processo, mas apenas uma “perseguição contínua”. “A operação de ‘lawfare’ segue à risca os procedimentos: manipularam a escolha do juiz, fabricaram acusações falsas e estapafúrdias, incumpriram todos os prazos e violaram o segredo de justiça, por forma a alimentar o jornalismo e fazer dele o seu principal aliado. O ‘lawfare’ é assim: não se destina a ganhar um melhor lugar na mesa das negociações — é uma guerra de extermínio. Em Portugal dura há 10 anos”, sublinhou.
O antigo líder do Partido Socialista reiterou ainda no artigo que o Estado português conduziu uma campanha de difamação “contra um cidadão inocente” (o próprio) e que, 10 anos depois da abertura do processo, a história “vertiginosa” do processo é de “contínua mudança na acusação” e “de violência de arbítrio”. O antigo Primeiro-ministro foi detido no aeroporto de Lisboa há 10 anos, após regressar de uma viagem a Paris. Dez anos depois da sua detenção, ainda não teve início o julgamento da Operação Marquês, que ficou marcada pelos diversos recursos de José Sócrates. “Dez anos de prisão na opinião pública. Dez anos em que o sistema criminal português se comportou como na ditadura, prendendo e difamando um inocente, enquanto escolhia o juiz do inquérito que melhor servisse o Ministério Público”, disse.
Sócrates deixou ainda uma palavra ao jornalismo que “divulgou”, “justificou” e que “branqueou”. “O adiamento dos prazos de inquérito, o adiamento dos prazos de instrução, o incumprimento de qualquer tipo de prazo pelo Estado é visto, pelo jornalismo, como a procura da ‘verdade material’ ou como resposta à chamada ‘dificuldade em provar’ ou ainda como forma de ultrapassar a costumeira ‘falta de meios'”, escreveu.