Perante uma plateia com muitos presidentes de empresas de órgãos de comunicação social nacionais e de dezenas de jornalistas, Luís Montenegro declarou-se “preocupado com as garantias de qualidade naquilo que é o exercício de uma profissão efetivamente muito relevante”.
O primeiro-ministro falava na abertura da conferência sobre “O futuro dos media”, em Lisboa, onde explicou a necessidade que o Executivo sentiu de criar um plano para o setor da comunicação social. Rejeitando “qualquer tipo de intromissão no espaço que é o reduto do jornalismo”, Montenegro considerou haver a “obrigação de possuir um edifício legislativo e de construir os alicerces da sustentabilidade financeira deste setor para que possa depois traduzir-se em maior grau de liberdade e em prosseguição do interesse público de informar”.
Luís Montenegro fez a seguir várias apreciações sobre a atividade jornalística, começando por observar que “é tão importante ter bons políticos como bons jornalistas para que a democracia funcione”. Nesse sentido, o líder do executivo considerou que seria melhor se a comunicação social fosse “mais tranquila na forma como informa, na forma como transmite os acontecimentos e não tão ofegante”. E clarificou: “Às vezes, de uma notícia que parece que é de vida ou de morte, quando afinal as coisas estão a funcionar, quando afinal é preciso saber que em cada momento nós estamos a discutir um determinado assunto”.
O chefe do Governo deu ainda, como exemplo, as vezes em que os jornalistas o tentam “apanhar à porta de um evento, ou à saída de um evento”, para lhe perguntarem “se o PS já respondeu ou não sei o quê, ou se eu já respondi ao PS”.
Na parte final da sua intervenção, o líder do Executivo deixou algumas críticas em relação ao desempenho de alguns profissionais do setor. “Vou fazer aqui esta pequena provocação, não é para criticar ninguém em especial. É só para verem como é que eu, do lado cá, que também é a minha obrigação, me impressionam, seja pela positiva, seja pela negativa. Uma das coisas que mais me impressiona hoje, quero dizer-vos aqui olhos nos olhos, é estar com seis ou sete câmaras à minha frente e ter os jornalistas a fazerem-me perguntas sobre determinado acontecimento e ver que a maior parte deles tem um auricular no qual lhe estão a soprar a pergunta que devem fazer. E outros à minha frente pegam no telefone e fazem a pergunta que já estava previamente feita”, declarou. “Assim, os senhores jornalistas não estão a valorizar a sua própria profissão, porque parece que está tudo teleguiado, está tudo predeterminado”, considerou, antes de rematar: “Para fazer a pergunta com o outro só para o ouvido, ou para ler a pergunta que está num SMS do telefone, sinceramente não é uma especial qualificação”.