Agora que o Banco de Portugal anunciou o fim da longuíssima liquidação da corretora de Pedro Caldeira, processo que durou duas décadas, há que dar voz ao protagonista – para, também ele, efetuar o “fecho de contas”. A derrocada da sociedade, em julho de 1992, fez correr rios de tinta, até à detenção, em abril de 1993, do corretor, num quarto do Marriot de Atlanta (EUA), na presença da mulher e dos dois filhos menores. Factual, no entanto, é que, em 2000, Pedro Caldeira seria absolvido dos 65 crimes de burla agravada e dos 17 de abuso de confiança, com que foi a julgamento. Resta, pois, o (muito) que aqui se fica a saber, com especial incidência em Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro.
Como entrou na Bolsa?
Por mero acaso. Um dia, em 1972, fui à Bolsa com o António Caldeira, grande amigo e colega de curso, no 3.° ano de Engenharia Mecânica, no Técnico. Ele tinha herdado umas ações e queria saber quanto aquilo valia.
Já sabia alguma coisa de Bolsa?
Rigorosamente nada, tinha 22 anos. Mas, quando lá entrei, fiquei fascinado. Adorei aquilo, aquele ambiente frenético, cheio de fumo. Curiosamente, a Bolsa situava-se no Torreão Norte da Praça do Comércio e o meu pai [oficial do Exército] estava nessa altura colocado no Tribunal Militar, no Torreão Sul. Eu era filho único, com uma ligação fortíssima ao meu pai, e essa coincidência pareceu-me uma manobra do destino.
E aconteceu alguma coisa de especial?
Sucedeu mesmo. Inesperadamente, no meio da sessão, encontrei o meu primo Abílio de Sousa, mais velho do que eu, que era corretor, coisa de que não tinha ideia. Tratámos das ações do António Caldeira, que já percebia de Bolsa, e eu e o meu primo combinámos logo um almoço. A partir daí, comecei a ir à Bolsa, a entusiasmar-me com aquilo e, ao quinto dia, decidi que nunca mais voltava ao Técnico.
Quanto tempo decorreu até ingressar num escritório de corretagem?
Ao fim de duas semanas, o meu primo disse-me que eu tinha jeito para aquilo. E convidou-me para trabalhar no escritório dele. Fiquei tão espantado que lhe perguntei se estava a gozar comigo. Respondeu-me que era mesmo a sério. Perguntei-lhe quanto ia ganhar. Dez contos [50 euros], “para começar”, disse-me. “Dez contos?!” Fiquei siderado. “Venho já amanhã!” Para se ter uma ideia de como era um bom salário, comprava-se um carro novo por 50 contos. Dez contos, aliás, era o dobro do que, à época, o meu pai ganhava, no Exército. E quando ia para o Ultramar, em comissão de guerra, pagavam-lhe 5 400 escudos.
Qual foi a reação do seu pai?
Disse-lhe que lhe ia dar um desgosto: desistia do curso, para trabalhar na Bolsa. Ele aceitou mal, mas, quando lhe comuniquei quanto ia ganhar, a reação mudou. Se era disso que eu gostava, paciência, que fosse em frente.
E que volta deu a sua vida?
Tinha 23 anos quando recebi aquele primeiro ordenado, em 1973, e casei-me logo com a Cristina [de origem basca e sua mulher há quase quatro décadas], que é da minha idade. E, a seguir à revolução de abril de 1974, a minha mulher abriu uma boutique de roupa, que se tornou famosa em Cascais.
Teve uma entrada de leão na Bolsa?
Até à revolução, apanhei meses fantásticos de Bolsa, ganhei muito dinheiro. Embora o País estivesse envolvido na guerra colonial, com graves problemas, havia, ao mesmo tempo, uma grande euforia económica. Estavam cotadas na Bolsa mais de 60 companhias – bem acima do que hoje acontece. Até o Banco de Portugal, imagine-se, era cotado na Bolsa.
Após a Revolução, o que lhe aconteceu?
A Bolsa fechou, para só reabrir em 1977. Continuei a trabalhar no escritório do meu primo, a ganhar o mesmo ordenado. Ele ausentara-se do País, por razões de segurança, e eu tomava conta do que lá estava – milhões de contos em ações e obrigações, em papel, empilhadas num cofre gigante. Era uma responsabilidade enorme. Lembro-me de que um dia houve uma inundação, entrou água no cofre, e apanhei um susto tremendo. Mas não se estragou nada.
Era só o que fazia?
Havia outra atividade, que, mesmo com a Bolsa fechada, era preciso fazer: cortar os cupões das obrigações que, mensalmente, valiam juros. Eu e dois contínuos tínhamos de cortar os cupõezitos, ir com aquilo aos bancos, para receber o dinheiro, e depositá-lo nas contas dos clientes. Era um trabalhão infernal, à tesoura, em torno de quilos e quilos de papel.
O seu primo regressou?
Sim. O grande rival dele era um senhor chamado Valentim Lourenço, à época já com 70 e muitos anos e o corretor mais antigo da praça de Lisboa. Não tinha filhos e adoeceu. Perguntou, então, ao meu primo se eu podia fazer a Bolsa no lugar dele, por uns tempos, o que o Abílio aceitou. Acertei logo com o meu primo que eu ia lutar pelos interesses do Valentim como ele batalhava pelos seus.
E?…
A coisa correu de tal maneira que, quando regressou ao escritório, o Valentim, verificando que o volume de negócios tinha aumentado bastante – o que deixou o meu primo um bocado chateado comigo… -, convidou-me para trabalhar com ele. É claro que fui falar com o meu primo. E ele reconheceu que, a bem do meu futuro, devia continuar no escritório do Valentim. Estávamos em 1983, e combinámos que, durante um ano, eu ganhava um terço do que auferia com o Abílio, e que, depois, ele, Valentim, me oferecia o trespasse do escritório. Mas ficávamos os dois a trabalhar no mesmo gabinete até ele morrer. E assim foi.
Tornou-se patrão, pois…
E com a grande sorte de então se estar a preparar a entrada de Portugal na CEE [que se concretizou em 1986] e de começar a haver algum interesse pela nossa Bolsa. Vi que tudo ia mudar e fiz logo uma grande viagem pela Europa, visitei corretores, bancos – dei-me a conhecer.
Houve resultados imediatos?
Quando apareceram os primeiros investidores estrangeiros, era a mim que se dirigiam. Comecei a ter ordens enormes de compras de ações. Além de que, em 1985, nas eleições para síndico, o representante dos corretores, os meus colegas votaram em mim. Com 35 anos, devo ter sido o síndico mais novo do mundo.
Muito novo, muito poder…
Tive na mão um poder enorme. Era quase obrigatório que um banco estrangeiro, que quisesse investir em Portugal, passasse, antes, por mim. Fui, também, o primeiro corretor a comprar um computador, um Sinclair, que era eu que programava, embora a Bolsa continuasse a ser física. Isto é, persistia o inferno das contas feitas à mão: as taxas de corretagem, o imposto de selo… Eu fazia isto tudo no meu computador e era o primeiro a avisar os bancos do que tinham realizado. Às três e meia da tarde enviava a informação, uma maravilha para a banca, enquanto os meus colegas só pelas 18 horas o faziam. Resultado: também os bancos portugueses, todos, passaram a trabalhar comigo.
Mas, em 1988, é punido com uma suspensão, por irregularidades, que não contestou.
Não contestei essa suspensão, de seis meses e administrativa, por uma razão muito simples. Tudo começou com uma inspeção que o então auditor, Armindo Jorge Ribeiro, me fez – a primeira efetuada, a um corretor, na história da Bolsa portuguesa. Eu tinha milhares de clientes; havia filas quilométricas para o meu escritório, com pessoas a chegarem às cinco da manhã, munidas de uma pequena cadeira de plástico, para me darem ordens de compra de ações. Face a tamanho movimento, e embora eu já tivesse 60 empregados, aquilo começou a assumir proporções catastróficas. Os papéis, que eram ações, enchiam todo o meu escritório, casas de banho incluídas. E ainda aluguei o 1.° andar, para os guardar.
Que irregularidades eram essas?
Como fui o único inspecionado, por dar nas vistas, acusaram-me de não possuir a escrita comercial em dia – coisa que corretor nenhum da praça tinha. Todos nós trabalhávamos com uma escrita de mercearia. Depois, era preciso haver um diário, com o registo, manual, de todas as operações. Quando entrei na Bolsa, esse livro já existia e, em meia hora, um empregado fazia a sessão toda. Em 1988, um funcionário, ao fim de dez horas, já não via o livro nem nada… E o diário só estava atrasado um mês, um milagre…
Houve mais imputações?
Para meu espanto, ainda apareceu nesse auto de suspensão uma alegação ridícula: a de que havia um conflito de interesses entre mim e empresas cotadas em Bolsa. À época, ao contrário do que hoje acontece, os corretores não podiam comprar essas ações para si próprios. Mas, no essencial, era isto: a dada altura, alguém, já não me lembro quem, da Caixa Económica do Funchal, antecessora do Banif, abordou-me para investir ali, de modo a safar aquilo, que estava à beira da falência. Imbuído do melhor espírito, e porque podia fazê-lo, investi os 5 mil contos [25 mil euros] que me pediram – e assim tornei-me acionista do Banif, que surgiu logo a seguir. Como não estava cotado em Bolsa, nunca me preocupei com o assunto. A explicação que me deram foi que, embora não sendo cotado, o Banif dava ordens para operações em Bolsa. O que tinha uma coisa a ver com a outra?
E não fez nada?
Fui falar com o meu advogado e soube que a suspensão era imediata. E que, para a levantar, o auditor demorava de seis meses a um ano a julgá-la. O próprio auditor reconheceu que um eventual recurso meu não serviria para nada, porque, entretanto, tinha voltado a trabalhar. Esse auditor, Armindo Jorge Ribeiro, mandou-me, em 1990, quando saiu do cargo, uma carta em que dizia ter a maior consideração por mim. Ainda hoje a guardo. Ah: no primeiro dia do meu regresso ao ativo, em janeiro de 1989, comprei o Totta para o Mario Conde (risos).
Como ocupou esses seis meses?
Resolvi reorganizar o meu escritório, com o apoio de pessoas como Jorge de Brito e Jorge Figueiredo, que confiavam em mim e que, de imediato, puseram capital à disposição, para me aguentar. E, à falta de legislação consistente, fui, como síndico, falar com o meu homólogo espanhol – que, já em Madrid, me deu um esboço que tinha para uma lei dos mercados mobiliários. Esse esboço andava a marinar em Espanha há um ano, mas cá, pouco depois de o entregar ao então governador do Banco de Portugal, Tavares Moreira, foi a base de uma lei que revolucionou a nossa Bolsa.
De que forma analisa, hoje, a inspeção e a suspensão?
A suspensão não teve só a ver com o que antes relatei. É que, em 1986, resolvi ser banqueiro. Associei-me à então Sociedade Hispanoamericana, atualmente integrada no Grupo Santander, e paguei-lhes 20 mil contos [100 mil euros] para fazerem um estudo do projeto do meu banco. Na altura, o capital social necessário era de 3,5 milhões de contos [17,5 milhões de euros]. Em 1987 – quando o meu escritório faturou 200 milhões de contos [mil milhões de euros], antes do crash de outubro desse ano -, fui entregar em mão o projeto do banco ao governador Tavares Moreira. O meu banco não só tinha um capital social igual ao do BCP, que abrira há pouco tempo, como apresentava acionistas do nível de Américo Amorim, Ilídio Pinho, a American Express… E, em 1987, fiz quase dois terços das OPV [Operações Públicas de Venda], e todos esses clientes tornaram-se propostos acionistas do banco, mediante cartas de intenção. Falo, igualmente, de António Champalimaud, da família Mello…
Diligenciou junto do Governo?
Sim. Fui entregar em mão o projeto do meu banco ao então ministro das Finanças, Miguel Cadilhe, na companhia, por exemplo, de Américo Amorim e de Jorge de Mello – que não se falavam por questiúnculas antigas. Um feito meu. Se Tavares Moreira ficou impressionado com o projeto, Miguel Cadilhe mostrou-se ainda mais entusiasmado. E o banco ficou para aprovação do ministro das Finanças, que tudo indicava estar adquirida. Mas, passado um ano, ocorreu a tal suspensão, devido à qual o meu banco transitou de Miguel Cadilhe para o primeiro-ministro, Cavaco Silva – que chumbaria o projeto. Tratava-se de um banco perigoso: nessa altura, seria um forte concorrente de todos os outros. Mas eu não teria funções executivas no banco – ficava com 10%, como prémio de autoria do projeto. Venderia cada uma das ações a 1 100 escudos, e detinha os tais 10%, sem pagar. Era um projeto maravilhoso, que esbarrou em Cavaco Silva.
Tem mesmo a certeza disso?
Tenho, porque um dia, à saída de um almoço, em Cascais, em 1991, Jorge de Brito chamou-me à mesa onde estava e disse-me, com pena, que o projeto havia passado de Miguel Cadilhe para o primeiro-ministro. E que, tinha a certeza, ia ser chumbado. Nesse mesmo dia, telefonaram-me do Banco Pinto & Sotto Mayor, então ainda do Estado [e mais tarde incorporado no BCP], a dizer que eu tinha um buraco de 2 milhões de contos [10 milhões de euros] nas minhas contas. Aí começou o meu grande problema.
O que fez?
Pedi de imediato uma auditoria à Arthur Andersen, pela qual paguei 30 mil contos [150 mil euros]. O Sotto Mayor, pelo seu lado, efetuou uma auditoria interna, em vez de externa. E nunca se conseguiu provar nada. O que a Arthur Andersen garantia era que havia, de facto, uma falta de 2 milhões, mas que eu não tinha tirado um tostão daquelas contas. Acrescentava que a diferença não tinha a ver com dinheiro, tout court. Era uma questão de não contabilização de compras e vendas de ações, por uma das duas entidades. Ainda hoje está para se saber qual delas.
Qual foi a sequência do litígio?
Tive uma reunião secreta, numa casa no Monte Estoril, com Loureiro Borges, o presidente do Sotto Mayor – que, se não sofresse de uma doença muito grave, teria sido o líder do PSD, em lugar de Cavaco Silva; toda a gente sabe isso. Nunca mais me esqueço do que ali me disse: “Pedro: tenho tanta certeza de que você me deve 2 milhões como eu dever-lhe a si 2 ou 4 milhões. Eu sei que tenho dentro do meu banco uma quadrilha de faca na liga.” Assim mesmo. Depois, pôs os dados sobre a mesa: “Eu tenho de o criticar, porque sou um banco nacionalizado, não posso fazer outra coisa. E você, se quiser, critica-me a mim.”
Era um beco sem saída?
Imagine-se o que era um buraco de 2 milhões de contos, num banco que tinha um capital social de cerca de 3 milhões. E, nessa altura, se o Sotto Mayor estoirasse, o País também rebentava. Tínhamos, portanto, de assinar um acordo. Mas pedi uma audiência ao Presidente da República, Mário Soares, que me recebeu imediatamente. Antes, solicitei-lhe a máxima confidencialidade sobre toda esta história que lhe ia contar e o compromisso a que chegara com Loureiro Borges. Combinámos um acordo em que eu me considerava como devedor da quantia em causa, com 20 anos para pagar, ao juro de 1 por cento. Financeiramente, ao fim desse tempo, dava um milhão para mim e outro milhão para o Sotto Mayor.
Como correu a audiência com Mário Soares?
Tive de explicar tudo sobre a Bolsa ao Presidente, como se fosse uma mercearia. Mas eu pedira-lhe estrita confidencialidade, e ele tinha ao lado um assessor. Chamei-lhe a atenção para isso, de que preferia uma conversa a sós, o assunto colocava a banca nacional em jogo. Ele respondeu-me que precisaria do assessor, para o ajudar a perceber melhor o problema. E que, dali, não sairia “nada”. Mas, quando cheguei ao meu escritório, recebi logo um telefonema do Fernando Ulrich, a dizer-me que já sabia que eu tinha um buraco de 2 milhões no Sotto Mayor. Como sabia? O tal assessor de Mário Soares trabalhava, também, no BPI, e ligou-lhe de imediato… Era assim que as coisas funcionavam. E, se calhar, continuam a funcionar. Resultado: aquele buraco tornou-se-me num cancro para a vida. Mas o litígio persiste, agora com o BCP.
Guarda ressentimentos de Cavaco Silva?
Veja-se este exemplo: aquando da minha suspensão, Cavaco Silva foi abordado por jornalistas à saída da Gomes Teixeira, que lhe pediram que comentasse o assunto. E ele disse uma frase que nunca mais esqueci: “Se o auditor achou por bem tomar essa medida, que não lhe doam as mãos.” Já quando houve os problemas que se conhecem com o então conselheiro de Estado Dias Loureiro, disse o inverso: que era inocente até prova em contrário. E a verdade é que o meu banco foi chumbado e aconteceu-me o que se sabe até 1992. Cavaco Silva tomou-me de ponta. E eu a ele.
Miguel Cadilhe ficou completamente de fora do projeto do seu banco?
Ainda me autorizou a representar todos os que me acompanhavam no projeto, o que se revelou uma armadilha, porque, às tantas, deram-me como dono quase absoluto daquilo. Cadilhe sabia bem que isso não correspondia minimamente à verdade, e que se tratava, apenas, de um expediente, que ele deferiu, para ultrapassar burocracias.
Mas regressava a questão de, enquanto corretor, não poder ser acionista de um banco.
O banco não iria estar cotado em Bolsa. Para isso, aliás, eram precisos três anos de exercício. A cotação em Bolsa era algo a ver na altura própria. E, se o projeto fosse por aí, eu tinha muito tempo para vender as ações ou fazer o que quisesse.
Mais tarde, em meados dos anos 1990, recaíram sobre si acusações muito graves…
Quando estoirei financeiramente, acabei acusado de me servir, em proveito próprio, do dinheiro dos clientes, que supostamente angariava com a miragem de juros altos. Eu apenas investia em Bolsa, onde se ganha e se perde. Não comprava nem vendia ações para mim. Era nas corretagens que ganhava dinheiro: por cada mil contos [5 mil euros] que alguém transacionava, cabiam-me cinco [25 euros]. Foi isso que provei em tribunal, com a apresentação de 34 mil documentos. De tal modo que o procurador, nas alegações finais, pediu a minha absolvição completa, corroborada, na sentença, por três juízes. Isto ao cabo de mais de 130 sessões. E, já agora, lembro que, mal foi deduzida a acusação pelo Ministério Público, não pedi a abertura de instrução, para tentar amenizar o que me era imputado. Quis ir, direto, para julgamento, porque tinha a certeza absoluta de que estava inocente.
O que sucedeu, exatamente, no início da década de 1990?
Depois do crash de 1987, a Bolsa levou muito tempo a reanimar. E em 1991, quando houve outra queda, eu estupidamente achei – mas sem dolo, como se provou em tribunal – que, se reunisse cem pessoas para investir, era bom para a Bolsa e para o País. Essas pessoas entregaram-me dinheiro para ser eu a jogar na Bolsa por elas. E isso é que nunca devia ter feito. Simplesmente, pensei que, sozinho, ia conseguir, outra vez, revigorar a Bolsa.
Nunca mais se lhe conheceu uma profissão… Do que vive?
Vivo com dificuldades, mas tenho uma mulher extraordinária, que trabalha, e eu, por exemplo, faço peritagens em casos de pessoas que entregaram a gestão das suas carteiras de títulos a bancos e não estão satisfeitas com os resultados.
De essencial, o que mudou em si?
Tenho perfeita noção de que o que me perdeu na vida – independentemente dos inimigos que ganhei – foi a minha própria vaidade, ambição e orgulho, que hoje considero atitudes completamente estúpidas. Que necessidade tinha eu de querer ser sempre o n.° 1? O que me iria na alma? Ainda procuro essas respostas. E fui um privilegiado. Deus deu-me tudo – até ganhei o Totoloto aos 35 anos. Mas os meus erros tudo estragaram.