Um recente estudo, publicado esta quarta-feira pela revista Lancet Public Health, sugere que as mortes provocadas pelos fenómenos de calor extremo possam vir a triplicar um pouco por toda a Europa até ao final do século, caso as políticas climáticas estabelecidas atualmente se mantenham.
Segundo a investigação, o número de óbitos associados ao calor – que atualmente se situa nos 43 mil – pode subir para os 128 mil até 2100, tornando-se imperativo “reforçar as políticas para limitar o aquecimento global e proteger as regiões e os membros das sociedades mais vulneráveis” dos efeitos do aquecimento global.
“Prevê-se que ocorram muito mais mortes relacionadas com o calor à medida que o clima aquece e as populações envelhecem, enquanto as mortes por frio diminuem apenas ligeiramente”, referiu David García-León, do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia e investigador do estudo.
A investigação baseou-se na recolha e análise de dados referentes a mais de 800 cidades europeias de forma a calcular-se o número de mortos provocados por altas e baixas temperaturas por todo o continente. Contrariamente ao que se possa pensar, o número de mortes associadas ao frio é superior às provocadas pelo calor, com oito vezes mais óbitos relacionados com o frio do que com o calor. Contudo, e apesar do frio matar, atualmente, mais pessoas do que o calor, a nova investigação prevê que esta realidade mude “drasticamente durante este século, com um aumento das mortes atribuídas às altas temperaturas em todas as partes da Europa “, referiu Juan Carlos Ciscar, também autor do estudo.
Num cenário de aquecimento global de três graus celsius, segundo a investigação, o número de óbitos por temperaturas extremas – sejam estas por frio ou calor – que atualmente ronda as mais de 407 mil mortes anualmente, aumentará até 13,5%. O calor poderá vir a ser o responsável pelo obituário de 128 809 até ao final do século. Já as provocadas pelo frio deverão baixar ligeiramente de 363 809 para 333 703 em 2100. “Paralelamente, as mortes relacionadas com o frio diminuíram ligeiramente. O nosso estudo analisa mais de 1000 regiões em 30 países, permitindo identificar os pontos críticos onde as pessoas serão mais afetadas no futuro”, continuou Cisca.
Em Portugal – um dos países da União Europeia onde mais se morre devido ao calor – o cenário de um aquecimento global estudado – o aumento de 3° Celcius – provocará um aumento do número de mortos de pouco mais de mil pessoas para 2 284 e a descida das mortes provocadas pelo frio de 7 345 para 4 682.
De acordo com os cientistas, esta situação afeta sobretudo as pessoas de faixas etárias mais elevadas, como os idosos, e vulneráveis. Ademais, os países sul da Europa – como a Espanha, a Itália e a Grécia, e partes da França – serão as mais afetadas, sendo esperado um elevado aumento do número de mortes.
Este estudo representa “a primeira análise aprofundada dos riscos atuais e futuros para a saúde decorrentes das temperaturas altas e baixas em toda a Europa”, lê-se. “O nosso estudo identifica os pontos críticos onde o risco de morte devido a temperaturas elevadas deverá aumentar drasticamente na próxima década. Há uma necessidade crítica de desenvolver políticas mais direcionadas para proteger estas áreas e os membros da sociedade que correm maior risco devido a temperaturas extremas”, defendeu García-León.
Já países no norte da Europa – como a Noruega e a Suécia – poderão registar um aumento das mortes por frio, mesmo com os declínios globais noutras regiões. “Há uma necessidade crítica de desenvolver políticas mais específicas para proteger estas áreas e os membros da sociedade mais vulneráveis às temperaturas extremas”, avisou García-León.
Entre as limitações do estudo reconhecidas pelos autores do estudo encontra-se a utilização de dados relativos apenas a áreas urbanas. Isto significa que as conclusões do estudo podem ser ligeiramente exageradas uma vez que fenómenos – como as “ilhas de calor” – são mais comuns em cidades. Ademais, os resultados não têm em conta o género ou etnia dos mais afetados pelas temperaturas extremas.