Já estava tudo combinado entre o Presidente da República de Portugal e os reis de Espanha. Por isso, quando Marcelo Rebelo de Sousa convidou a princesa Leonor a visitar o país vizinho deste lado da fronteira, ela aceitou que fosse esta a sua primeira viagem oficial ao estrangeiro, enquanto herdeira do trono espanhol. Já tinha sido assim na juventude do pai, o rei Felipe VI, então ainda príncipe das Astúrias, o título que ostenta o membro da família real que se encontra na primeira linha de sucessão ao trono e que hoje pertence a Leonor de Borbón y Ortiz, filha mais velha de Felipe VI e da rainha Letizia – a mais nova é a infanta Sofia.
No dia em que completou 18 anos, 31 de outubro do ano passado, Leonor jurou a Constituição, perante senadores e deputados nacionais, e desde então ficou habilitada a exercer como chefe de Estado de Espanha, se por qualquer motivo (morte, incapacidade, renúncia…) for necessário tomar o lugar do pai. Para já, nesta sexta-feira, 12, será recebida pelo Presidente Marcelo, no Palácio de Belém, como representante da Coroa espanhola, acompanhada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, e sem a presença de qualquer outro elemento da família real. Segundo uma nota da Presidência, “o programa desta visita terá um enfoque particular na proteção do ambiente e na conservação dos oceanos, temas prioritários para Portugal e Espanha”.
Direita, esquerda, volver
Como é habitual nas monarquias, Leonor tem seguido as tradições familiares noutros contextos, por exemplo na escola e na formação militar. Desde agosto de 2023, a princesa das Astúrias está a cumprir o serviço militar (voluntário) na Academia Militar de Saragoça, do Exército espanhol, à imagem do que fizeram o pai e o avô Juan Carlos, o rei emérito exilado nos Emirados Árabes Unidos desde 2020, devido a escândalos financeiros e pessoais.
De calças brancas e camisa azul com mangas arregaçadas – e desfraldada do lado direito -, Leonor apresentou-se na academia após meses de preparação física, de modo a facilitar a integração e a torná-la mais capaz de superar os desafios que a esperavam. Ali tem de enfrentar as mesmas provas, adaptar-se às mesmas rotinas e utilizar os mesmos espaços que as suas companheiras de camarata, seja correr um quilómetro em menos de quatro minutos e meio, despertar todos os dias às seis e meia da manhã ou tomar duche no mesmo balneário.
A Casa Real acredita que estas experiências ajudam ao desempenho do cargo de futuros reis e rainhas, além de fomentarem “virtudes como a lealdade, a disciplina ou o companheirismo”. Daí que, após o primeiro ano de formação no Exército, Leonor vá cumprir um segundo na Marinha, na Escola Naval Militar de Merín (Galiza), com vários meses em alto mar e passagem por vários portos do continente americano, e um terceiro na Força Aérea, no caso na Academia Geral do Ar (região de Múrcia), em que terá oportunidade de aprender a pilotar aviões e helicópteros.
Poliglota em pausa escolar
Só depois de “fazer a tropa” é que a herdeira ao trono espanhol retomará os estudos. Durante mais de uma década, Leonor frequentou o colégio privado Santa María de los Rosales, em Madrid, no qual o pai também estudou, para de seguida concluir um bacharelato internacional no País de Gales, no Atlantic College. Situada num castelo do Século XII, cuja sala de refeições é semelhante à que aparece nos filmes de Harry Potter, esta escola seleciona alunos de todo o mundo com base em testes anónimos. O curso, de dois anos, custa 76 mil euros.
Quando terminar a sua educação militar, dentro de dois anos, a princesa das Astúrias deverá escolher um curso universitário e, depois, uma pós-graduação, provavelmente numa outra instituição de ensino de prestígio no estrangeiro.
Nas escassas intervenções públicas, até ao momento, da jovem de 18 anos, foi já possível confirmar o seu à-vontade nessas situações, assim como a fluência no catalão, no galego e no idioma basco. Também é sabido que, pelo menos, o inglês e o francês são outras línguas que domina na perfeição. Leonor está a ser educada para ser a futura rainha de Espanha e, hoje, em Portugal, começa uma nova etapa, a das visitas oficiais a outros países sem os pais por perto. Estará ela preparada para o já famoso cumprimento efusivo de Marcelo Rebelo de Sousa?