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Como estão as competências motoras das crianças portuguesas?
A competência motora de uma criança refere-se à capacidade que ela tem para realizar com sucesso uma série de movimentos como corridas e saltos, ou gestos como lançar, pontapear ou receber uma bola. Apesar de não termos vindo a fazer a sua avaliação na escola de forma tão regular como temos feito a avaliação da aptidão física, que envolve força, velocidade, resistência e flexibilidade, existem alguns indicadores de que a situação não é boa e de que a habilidade das crianças para realizar os movimentos fundamentais tem vindo a diminuir ao longo das gerações.
Como comparamos com outros países?
É um problema geracional, transversal aos países ditos desenvolvidos e afetado por múltiplos fatores, como a cultura de ecrãs ou uma forte aversão ao risco. Ainda assim, sente-se menos nos países nórdicos.
Eles inventaram a regra dos 17 segundos, da qual é apologista. Em que consiste?
Se vir uma criança pendurada numa varanda, é óbvio que não vou contar até 17 antes de agir. Mas, regra geral, os pais e quem está a supervisionar as crianças no ensino são muito precipitados a interromper brincadeiras nas quais consideram que elas estão em risco, quando deviam tentar perceber se vão conseguir ou não resolver a situação por si próprias. Às vezes, uma simples corrida já é muito rápida, a criança já se vai magoar e sujar e arranhar os joelhos. Não será nada assim tão grave ao pé de um espírito abatido que nunca experimentou nada. Nesses casos, mais vale esperar 17 segundos, em vez de estar sempre com o “não” e o “cuidado” na boca.
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Por que razão adultos que provavelmente brincaram bastante na rua enquanto crianças se tornaram pais com tanto medo de que algo aconteça aos filhos?
É um grande mistério, mas creio que tem muito que ver com a cultura da informação que coloca um peso sobre os pais para educarem crianças perfeitas. Só que em desenvolvimento as coisas não são previsíveis, não é como fazer um bolo, que sai de acordo com a receita. Se não houver um acordar geral, vamos ter aqui um gap em que os pais, às tantas, já não brincaram na rua, já não sabem o que é descer uma rua de carrinhos de rolamentos ou trepar a uma árvore. Se a estes ainda os podemos levar a recordar a infância e a pensar em ir com os miúdos para a rua fazer qualquer coisa divertida, quando se perder esta geração não sei onde vamos parar.
As atividades físicas estruturadas devem ser conjugadas com as brincadeiras espontâneas?
Os dois tipos de atividades devem ser complementares. Também tem de existir atividade física estruturada desde cedo. E aí a escola e a Educação Física têm um papel fundamental. Por exemplo, a escola pode criar desafios para organizar comboios pedestres ou de bicicleta para deslocações em grupo para as aulas. Já nos clubes, a natação pode surgir como um ótimo ambiente para os pais interagirem com os filhos ainda bebés. Não é querer transformá-los em nadadores olímpicos nem em bebés à prova de água, é muito mais um benefício relacional.
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