À partida, a pergunta que faremos a seguir parece ter uma resposta imediata: preferia estar sozinha no meio da floresta com um urso ou com um homem? Esta questão viralizou no TikTok depois de, em abril, ter sido publicado um vídeo na conta Screenshot HQ (e que tem, até agora, mais de 2 milhões de visualizações e 70 mil comentários) em que se perguntava a oito mulheres se preferiam ficar sozinhas numa floresta com um homem ou um urso, sendo que sete responderam, quase sem hesitar, “urso”.
A pergunta, feita entretanto por vários utilizadores a familiares, amigos ou parceiros e até a estranhos na rua, tem entretanto criado grandes debates nas redes sociais e tem sido motivo de respostas surpreendentes e alarmantes por parte das mulheres – e de reações zangadas de vários homens.
No próprio TikTok, mas também no Instagram e na rede social X, várias foram as mulheres que, neste cenário hipotético, escolheram o urso como sua companhia, garantindo que um homem pode representar um perigo maior do que o animal selvagem.
Um “homem estranho e imprevisível é mais assustador do que estar sozinha com um animal selvagem previsível”, referiu uma utilizadora; “A pior coisa que o urso pode fazer é matar-me”, afirmou outra. Uma outra utilizadora disse ainda que o animal não se iria “divertir” com o facto de uma mulher ficar sozinha na floresta. “O urso vê-me como um ser humano”, apontou ainda uma outra utilizadora.
Esta questão levou a uma grande discussão – só no TikTok foram feitas cerca de 8 mil publicações usando a hashtag #manvsbear – que vai muito além de uma simples trend nas redes sociais: muitas mulheres aproveitaram a pergunta para partilhar experiências negativas por que passaram com homens, incluindo situações de violência doméstica e agressão sexual.
Algumas utilizadoras decidiram também perguntar aos homens das suas vidas se preferiam que a sua mulher ou filha ficasse sozinha na floresta com um urso ou com um homem, e muitos deles escolheram o primeiro. “Acho que é mais provável antecipar o que um urso faria do que o que um homem faria”, afirmou um utilizador, respondendo à mulher.
Uma TikToker também perguntou ao seu pai, caçador de ursos de longa data, o que é que escolheria para ela. “Terias mais hipóteses com o urso”, respondeu, acrescentando: “Porque os homens são maus”. “O urso não pediria desculpa e prometeria nunca mais fazer o mesmo”, disse outro utilizador.
Muitos utilizadores abordaram o facto de este animal representar uma pequena ameaça para os humanos, em comparação com os números relacionados com violência contra as mulheres conhecidos por todo o mundo.
Segundo uma investigação publicada na revista Nature, são cerca de 40 os ataques a humanos por ursos pardos anualmente, sendo que cerca de 11 ocorrem na América do Norte. Já de acordo com o Serviço Nacional de Parques norte-americano (National Park Service), os ataques de ursos a humanos são muito incomuns e “a maioria dos encontros com ursos termina sem ferimentos”.
Dados publicados pela Organização das Nações Unidas (ONU) relevam, pelo contrário, que em 2022 quase 89 mil meninas ou mulheres foram mortas intencionalmente em todo o mundo e que uma em cada três mulheres sofreu violência por parte do parceiro ou algum tipo de violência sexual por parte de um não parceiro, não incluindo o assédio sexual ou outras situações desconfortáveis para as mulheres.
Em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), mais de 1,5 milhões de portugueses já foram vítimas de violência física ou sexual como adultos, e as mulheres são as principais vítimas de violência sexual em contexto de intimidade.
Segundo a mesma instituição, “a proporção de mulheres que sofreram violência sexual na idade adulta é praticamente o triplo da observada nos homens (6,4% para 2,2%, respetivamente)”, com os homens a apresentarem “uma maior prevalência de violência física, sendo superior à das mulheres em 5,3 p.p. (18,5% para 13,2%)”.
“O facto de as mulheres considerarem sequer questões hipotéticas [em que têm de escolher entre um homem ou um urso] significa que falhámos completamente na criação de uma sociedade segura”, lê-se numa publicação na rede social X.