Publicado em 2023 na revista científica Journal of Comparative Neurology, um estudo conduzido pela neurocientista Suzana Herculano-Houzel, concluía que o cérebro dos dinossauros terópodes – uma espécie dos quais fazem parte os T-Rex – teria semelhanças às dos macacos e babuínos. Nas suas conclusões a autora afirmava que estes dinossauros possuíam um elevado número de neurónios, semelhante ao cérebro dos primatas, sendo substancialmente mais inteligentes do que a ciência pensava.
Contudo, uma recente revisão científica publicada na revista científica The Anatomical Record concluiu que o estudo de Herculano-Houzel terá sobrestimado o tamanho do cérebro dos dinossauros, bem como a contagem de neurónios. “Além disso, as estimativas da contagem de neurónios não eram um indicador fiável para inferir a inteligência”, explicou Hady George, um dos investigadores da Universidade de Bristol, no Reino Unido.
A equipa internacional de paleontólogos, cientistas comportamentais e neurologistas reexaminou o tamanho e a estrutura do cérebro dos dinossauros e concluiu que estes possuem mais semelhanças a espécies de répteis, como os crocodilos e lagartos, do que a espécies de primatas. “A possibilidade de o T-Rex ter sido tão inteligente como um babuíno é fascinante e aterradora, mas o nosso estudo mostra como todos os dados de que dispomos contrariam esta ideia. Eram mais parecidos com crocodilos gigantes inteligentes, o que é igualmente fascinante”, concluiu Darren Naish, investigador da universidade de Southampton.
Atualmente, os estudos sobre o cérebro dos dinossauros baseiam-se na observação de moldes internos da caixa craniana, bem como sobre as formas dos crânios de fósseis de dinossauros, recursos que servem para construir uma imagem mais fiel do cérebro destes seres vivos antes de serem extintos. “A melhor forma de determinar a inteligência dos dinossauros e de outros animais extintos é utilizar muitas linhas de evidência, desde a anatomia grosseira até às pegadas fósseis, em vez de se basear apenas em estimativas do número de neurónios”, continuou George.
Para a reconstrução de traços biológicos de dinossauros, os investigadores envolvidos na revisão científica consideraram que devem ser observados fatores como a anatomia do esqueleto, a histologia óssea, o comportamento dos parentes vivos e os vestígios fósseis existentes. “A contagem de neurónios não é um bom indicador do desempenho cognitivo e a sua utilização para prever a inteligência em espécies há muito extintas pode levar a interpretações muito enganadoras”, acredita Ornella Bertrand, uma das autoras envolvidas no estudo.