Pode escrever-se que o Rock Rendez Vous (RRV) nasceu no momento certo, quando o rock declinado em português estourava. Na ressaca dos dias revolucionários, havia toda uma geração jovem e ansiosa de modernidade, com vontade de pegar em guitarras elétricas e fazer diferente. Mário Guia, antigo baterista d’Os Ekos e dos Objectivo, decide procurar um local onde as bandas emergentes pudessem tocar ao vivo, à semelhança do que acontecia no The Marquee, em Londres. O velho Cinema Universal dos filmes para a militância da esquerda, no número 175 da Rua da Beneficência, serviu o propósito. Retiradas as cadeiras da plateia, pintaram-se as paredes de preto, fez-se o isolamento acústico e montou-se a aparelhagem de amplificação.
Rui Veloso inaugurava o palco, a 18 de dezembro de 1980, à conta do êxito Chico Fininho, single do seu LP de estreia, Ar de Rock (1980), numa sala cheia como um ovo. “Finalmente em Lisboa, tal como em Londres e Nova Iorque, um clube de rock’n’roll”, anunciava-se, numa publicidade no Se7e. Nas páginas do semanário, descreviam-se assim os primeiros tempos: “Entradas a 250 paus, admitia-se toda a gente. Bem ou mal vestidos. Sós ou mal acompanhados e, claro, a malta caiu lá toda, esfomeada que andava de concertos.” Foram 1 500, em dez anos, num desfile de bandas de todo o País e do estrangeiro, lê-se no livro Rock Rendez Vous – Uma História em Imagens, com coordenação de Luís Carlos Amaro, agora editado.