Um novo estudo, realizado por investigadores da Faculdade de Medicina Grossman da Universidade de Nova Iorque, nos EUA, concluiu que duas regiões cerebrais específicas vizinhas, o giro frontal inferior e o córtex motor, ambas incluídas no córtex cerebral, desempenham um papel importante no planeamento daquilo que se vai falar mesmo antes de as palavras serem ditas em voz alta.
O giro frontal inferior faz parte córtex frontal e está localizado na parte inferior do lobo frontal do cérebro, desempenhando um papel crucial em várias funções cognitivas como o planeamento e a tomada de decisão, e em vários processos complexos como o desenvolvimento da linguagem. Já o córtex motor controla a execução de movimentos voluntários e é responsável por enviar sinais motores para os músculos do corpo, permitindo a execução de movimentos coordenados e precisos.
Já se sabia que o córtex cerebral é responsável por controlar os movimentos musculares na garganta e na boca necessários para produzir a fala; contudo, segundo a equipa, ainda não era claro até que ponto estas regiões determinam a mistura de sons e palavras que as pessoas vão dizer, depois, em voz alta.
“O nosso estudo demonstra o papel do córtex motor do cérebro e do giro frontal inferior no planeamento do discurso e na determinação do que as pessoas se preparam para dizer, e não apenas na expressão das palavras através das cordas vocais ou na pronúncia das palavras através do movimento da língua e dos lábios”, refere Heather Kabakoff, investigadora principal do estudo.
Para o desenvolvimento da investigação, a equipa analisou 16 doentes com idades entre os 14 e os 43 anos, que iam ser submetidas a cirurgias para o tratamento de convulsões ligadas a epilepsia, entre 2018 e 2021, analisando centenas de gravações de mapeamento cerebral.
Neste tipo de cirurgia, os médicos estimulam eletricamente partes específicas do cérebro, enquanto pedem aos doentes que realizem tarefas padrão relacionadas com a fala (devem dizer, por exemplo, os dias da semana por ordem). O objetivo é isolar e poupar as partes do cérebro mais relevantes no que diz respeito ao ato de falar, permitindo remover apenas o tecido cerebral responsável pelos sinais elétricos que provocam as convulsões.
As conclusões
A análise permitiu chegar à conclusão de que as pausas nos discursos podem revelar informações muito revelantes acerca da maneira como o nosso cérebro planeia e, consequentemente, produz o discurso. Os investigadores garantem ter conseguido medir e analisar os intervalos de tempo (com duração inferior a dois segundos), ou latências, durante os quais a estimulação cerebral começa e a fala se torna arrastada e acaba por parar, ou seja, afirmam ter conseguido determinar com precisão que regiões cerebrais estão envolvidas no facto de um doente poder ou não continuar a falar após a estimulação do córtex.
Um das conclusões do estudo, publicado na revista Brain, foi a descoberta de que as latências entre a estimulação elétrica e a eventual perda da capacidade de falar são diferentes entre as regiões do cérebro: os investigadores observaram que as latências foram mais longas nas regiões inferiores ou mais baixas do córtex motor (1,0 segundos), assim como noutra camada superficial, o giro frontal inferior (0,75 segundos).
Como os doentes foram capazes de continuar a falar durante bastante tempo após a estimulação, isto leva a crer, de acordo com os investigadores, que estas regiões têm mais probabilidade do que outras de estarem envolvidas no planeamento daquilo que as pessoas querem dizer.
A equipa registou, por outro lado, intervalos de tempo mais pequenos (de 0,5 segundos, em média), noutras regiões do córtex motor, referindo que estas interrupções mais curtas do discurso indicam que estas regiões desempenham um papel mais importante na mecânica física da fala.
A conclusão geral da equipa foi de que um padrão de latências mais longas corresponde mais provavelmente ao planeamento da fala em diferentes regiões do córtex cerebral relativamente às latências mais curtas, que correspondem a partes do córtex cerebral envolvidas na produção da fala.
A equipa pretende agora avaliar os padrões de latência noutras partes do cérebro.