A 17 de janeiro, a depressão Irene levou duas embarcações estrangeiras a encalharem na Praia Grande, em Ferragudo (município de Lagoa) – local galardoado com Bandeira Azul em 2023. Antes, um veleiro sueco já tinha ali encalhado nas mesmas circunstâncias – esta embarcação foi abandonada pelo proprietário e não tem seguro, o que vai obrigar a que a remoção seja suportada pela “entidade administrante do local” [Câmara Municipal de Lagoa], segundo confirmou, à VISÃO, a capitania do porto de Portimão. Passado mais de um mês, as autoridades ainda não conseguiram resolver o problema (apesar de várias tentativas).
As três embarcações – os veleiros Ran (com pavilhão polaco) e Lady Stray (sueco) e a embarcação de recreio Thor I, registada na Malásia – estavam fundeadas ao largo daquela praia. No final do ano passado, o Lady Stray soltou-se e encalhou no areal. Apesar deste alerta, outras duas embarcações fundearam naquele local, mesmo depois dos avisos das autoridades marítimas portuguesas para o agravamento do estado do tempo. No dia 17 de janeiro, o Ran e o Thor I soltaram-se; o acidente tornou-se inevitável, com os barcos a encalharem em terra.
À VISÃO, um residente local, que prefere manter o anonimato, fala “de um exemplo da incompetência e irresponsabilidade”. “Estes três barcos não provocaram grandes danos, mas se se continua a permitir a circulação de barcos nas águas portuguesas, sem qualquer controlo, se se permite fundear estas embarcações ao largo das praias portuguesas, qualquer dia um barco de grandes dimensões vai naufragar e, aí sim, provocar um desastre ambiental de dimensões imprevisíveis, derramando milhares de litros de combustível”, alerta, apontando o dedo às autoridades marítimas.
A VISÃO sabe que os proprietários das embarcações Ran e Thor I já foram notificados para pagar caução prevista na lei, nestes casos. Os proprietários estão a suportar as despesas de remoção das embarcações, que têm seguro válido. As grandes dimensões do Thor I têm dificultado (e frustrado) as operações. O caso do Lady Stray é, no entanto, diferente – o veleiro foi abandonado.
Em resposta às perguntas da VISÃO, o capitão do porto de Portimão, o capitão-de-fragata Eduardo Godinho, explicou que “os acidentes foram originados por condições meteorológicas de exceção” sentidas naquele dia. “Duas das embarcações não possuíam tripulação a bordo quando se soltaram do fundeadouro. A terceira embarcação, a de maiores dimensões, estava fundeada com uma pessoa a bordo a aguardar disponibilidade para ir para um estaleiro em Ferragudo, no entanto, partiu a amarra e não conseguiu evitar o encalhe na praia”, informou aquele que é também o capitão local da Polícia Marítima.
O capitão-de-fragata Eduardo Godinho admite que a presença das três embarcações na Praia Grande representam “um risco ambiental”, mas garante que estas têm sido “objeto de monitorização”, por parte da capitania e do comando local da Polícia Marítima de Portimão, de forma a “assegurar que o risco de poluição ambiental é minimizado, e que caso ocorra, que seja prontamente removido pelo proprietário”. Os trabalhos para resolução do problema devem prolongar-se até final de março, apurou a VISÃO.
“Esta situação é duplamente uma vergonha. Portugal não pode permitir que, na sua costa, entrem, circulem e estacionem embarcações de qualquer maneira. Neste caso, com o alerta de tempestade, havia lugares vagos na marina e no porto de Portimão, mas os proprietários do barco preferiram fundeá-los gratuitamente, num local não apropriado; depois, há ainda barcos sem seguro ou proprietário nas águas nacionais… Quando acontece um acidente, como foi o caso, ainda tem de ser o Estado português a suportar as despesas da remoção. É uma situação ridícula”, afirma o residente local ouvido pela VISÃO.
A mesma fonte critica o que considera ser “a passividade das autoridades marítimas portuguesas” neste particular. O Programa Bandeira Azul já recebeu uma queixa sobre esta situação, mas, até ao momento, não respondeu, sabe a VISÃO.
Notícia alterada às 11h00 do dia 27.02.2024, com a informação de que o veleiro Lady Stray encalhou na Praia Grande, em Ferragudo, no último trimestre de 2023, e não a 17 de janeiro de 2024, como foi erradamente referido. No dia 17 de janeiro deste ano, encalharam no mesmo local e nas mesmas circunstâncias outras duas embarcações: Ran e Thor I.