Entre os dias 26 de julho e 11 de agosto, Paris vai receber a XXXIII edição dos Jogos Olímpicos da era moderna. Os bilhetes para assistir às competições desportivas foram vendidos ainda durante o ano de 2023, os atletas qualificados anseiam pela competição, sabe-se que a cerimónia de abertura vai acontecer nas margens do Rio Sena, os meios de segurança estão a ser preparados e as marcas que estão a patrocinar oficialmente o evento desportivo foram reveladas. Contudo, é neste último ponto que surge a mais recente polémica. É que, pela primeira vez na história, os Jogos Olímpicos aceitam uma marca de cerveja como “Top Partner”, um patrocinador de primeira linha e, por isso, com maior destaque durante o evento desportivo.
No dia 12 de janeiro, o Comité Olímpico Internacional (IOC) anunciou que a Corona Cero, da multinacional belga AB InBev, é uma das principais marcas patrocinadoras dos Jogos Olímpicos de 2024. A parceria estende-se também ao Comité Paralímpico Internacional e aos Jogos Paralímpicos. Na apresentação deste patrocinador foi salvaguardado que a Corona Cero é uma cerveja sem álcool e que serão passados anúncios desta bebida ao longo do evento, com mensagens de apelo a um “consumo moderado e um mundo melhor”, explica comunicado conjunto da IOC e AB Inbev.
O acordo prevê que esta parceria entre o Comité Olímpico e a multinacional belga dure até à edição de 2028, que terá lugar em Los Angeles, nos EUA, mas nessa altura o destaque não irá para a Corona Cero, mas sim para a cerveja Michelob ULTRA, a segunda mais vendida no mercado norte-americano e com 4.2% volume de álcool.
A crítica
Desde que a parceria com a AB InBev foi anunciada que o Comité Olímpico tem sido alvo de duras críticas por estar a ligar o evento desportivo a uma empresa que vende bebidas alcoólicas.
“Álcool e Jogos Olímpicos formam uma combinação estranha, pois os atletas que competem neste nível superior muitas vezes não bebem álcool enquanto se estão a preparar para a competição desportiva”, diz em comunicado Andrew Milson, diretor da Alcohol Change UK, uma associação que procura sensibilizar a população para os riscos relacionados com o abuso do consumo de bebidas alcoólicas.
Ian Gilmore, fundador da Alcohol Health Alliance, uma coligação do Reino Unido entre associações de prevenção do consumo de álcool, explica à CNN que a promoção de cerveja sem álcool não é isenta de riscos para a saúde: “Ainda não há um equilíbrio comprovado entre ajudar as pessoas que estão a tentar beber menos ou desistir, contra os riscos de iniciar o consumo dos jovens e aumentar a familiaridade deste público com estes produtos”.
Alex Barker, professor de psicologia da Universidade de Derby, em Inglaterra, explica que a “Corona Cero tem características semelhantes à marca geral Corona. A questão é saber se o público vai reconhecer a versão sem álcool ou apenas ver a marca Corona”. Para terminar, Barker destaca que “a exposição a marketing de bebidas alcóolicas está associada a um maior consumo ou a uma iniciação mais prematura nos jovens. Para mim, o problema desta situação está na promoção de uma marca de álcool”.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem trabalhado para restringir o marketing ligado a bebidas alcoólicas. Além de ter elaborado um plano para diminuir as adversidades do álcool até 2030, a OMS pretende que a divulgação destes produtos ao público seja regulamentada na publicidade, patrocínios e outras formas de produção. Um objetivo que é explicado pelo impacto negativo e comprovado do álcool na saúde humana, na segurança e nos comportamentos individuais.
Marcel Marcondes, diretor de marketing da AB InBev, reagiu às críticas que têm surgido nas redes sociais. “Parte desta parceria é focada em promover a moderação, para que os consumidores possam desfrutar dos Jogos Olímpicos com segurança e responsabilidade com cerveja sem álcool”,explica em declarações à CNN.
O interesse de patrocinar os Jogos Olímpicos
Os Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020 – realizados em 2021 devido à pandemia – foram assistidos por mais de 3 mil milhões de pessoas em todo o mundo. Este volume de audiência faz com que o evento desportivo seja muito cobiçado por grandes marcas, como é o caso da Coca-Cola, Samsung, Visa, Toyota ou a Omega.
Ainda que uma marca de cerveja numa tenha sido um dos principais patrocinadores dos Jogos Olímpicos, sabe que este tipo de bebida costuma fazer sucesso no mercado desportivo. Segundo um relatório de 2018 realizado pelo media britânico Sportcal, foram contabilizados 281 contratos de patrocínio desportivos com as 30 principais marcas de álcool no mundo que, juntos, foram avaliados em 705 milhões de euros.
Amandine Garde, professora de Direito na Universidade de Liverpool especializada em saúde pública, assume que “marketing com álcool resulta” e explica que “o público, mesmo o mais jovem, tem uma grande consciência das marcas”