O que começou por ser um projeto académico para terminar um curso de fotografia acabou por originar uma exposição que está a percorrer cidades de todo o mundo.
Em 2020, Augustin Lignier criou a “Selfie Rats”, uma experiência com a qual queria provocar uma reflexão sobre como as redes sociais podem estar ligadas ao vício e à procura de prazer e gratificação. O fotógrafo decidiu comprar dois ratos – um castanho e um branco – numa loja de Paris, cidade francesa onde vive, e colocou-os dentro de uma gaiola que tinha previamente construído. A gaiola em questão era completamente transparente, tinha dois pisos e um dispositivo que fazia disparar uma máquina fotográfica que se encontrava no exterior. Sempre que um dos ratos carregava no botão, tiravam um auto-retrato, que era projetado num ecrã para que os animais o pudessem ver, e acionavam também um mecanismo que os recompensava com açúcar.
No início da experiência, os dois ratos começaram por explorar a gaiola e, eventualmente, carregavam no botão que fazia disparar a máquina fotográfica e fornecia açúcar. Lignier conta que, passada uma semana do início da experiência, os dois ratos já relacionavam a ação de carregar o botão com a obtenção da recompensa.
Quando os ratos começaram a carregar no botão com a intenção de obterem o açúcar, Lignier colocou-os numa outra gaiola, local onde ficaram durante algum tempo com a intenção de que se “esquecessem” do que tinham aprendido na primeira “casa”. Quando o fotógrafo voltou a colocá-los na primeira gaiola, tinha alterado o mecanismo para apenas oferecer a recompensa algumas vez e não sempre, como fazia antes. Lignier conta que os ratos demonstraram recordar o início da experiência, já que, mesmo não recebendo logo açúcar, continuavam a carregar no botão até o doce surgir.
Inspiração e reflexão
Augustin Lignier inspirou-se num estudo do psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner da década de 1950 para o desenvolvimento desta experiência. O artista admite que, assim como o psicólogo, colocou os ratos dentro de uma gaiola para os treinar para uma tarefa. Se no caso de Skinner os ratos tinham de puxar uma alavanca para receberem comida, com Lignier eles recebiam açúcar e tiravam um autorretrato quando carregavam num botão. Nos dois casos, os animais perceberam a relação entre ação e recompensa.
Para o fotógrafo, a recompensa dada por uma fotografia pretende satirizar o que acontece nas redes sociais, em que as grandes empresas destes meios usam táticas sedutoras para atraírem os utilizadores e os levarem a publicar.
As imagens conseguidas ao longo desta experiência são consideradas “bonitas e divertidas” pelo fotógrafo. Tanto que a “Selfie Rats” passou de um trabalho académico que fez sucesso nas redes sociais para uma exposição que já passou por França, Itália, Suíça, Japão e Coreia do Sul.