O novo projeto de ódio do neonazi Mário Machado surgiu de braço dado com o discurso antimuçulmano introduzido pelo Chega no argumentário político nacional. A crescente aceitação da proposta política da direita radical populista – hoje, a terceira força partidária no País – contribuiu para normalizar (ainda mais) posições racistas e xenófobas, o que foi prontamente aproveitado por movimentos de extrema-direita, incapazes, até aqui, de conquistar relevância pública. Projetos como a Frente Nacional, Portugal Hammerskins ou Nova Ordem Social, a que Mário Machado esteve ligado desde a génese, nunca saíram da marginalidade. Mais recentemente, Machado procurou consolidar em Portugal uma filial (chamada Alcatraz) do grupo motard Red & Gold, “capítulo” (como se designa na linguagem do meio) português do grupo Bandidos Motorcycle Club – mas a ideia não vingou.
Mário Machado, que foi condenado a uma pena de quatro anos e três meses de prisão por envolvimento no assassínio do cabo-verdiano Alcindo Monteiro, tenta agora capitalizar o momento. Depois de organizar mais de dez marchas nacionalistas, nas últimas três décadas, de defesa da supremacia branca, Machado encabeça atualmente a organização de uma manifestação anti-islão nas zonas do Martim Moniz e da Mouraria. Para já, o evento está proibido pela câmara de Lisboa, depois de a PSP o ter classificado como de “elevado risco de perturbação grave e efetiva da ordem pública”. O neonazi português continua a desafiar a decisão das autoridades e apelou ao Tribunal Administrativo de Lisboa para que contrarie esta decisão. Nas redes sociais, tem reforçado a “convocatória” para que os seus apoiantes “marquem presença” na capital, em local ainda a definir.