Um dos primeiros estudos a mostrar a relação entre viver perto de espaços azuis e a saúde e o bem-estar data de 2008 e descobriu que quem vivia a 2 quilómetros ou menos da costa da Irlanda mostrava uma satisfação com a vida significativamente superior à de quem vivia a mais de 5 quilómetros.
Estudos posteriores demonstraram que residir perto da costa ou rios ou lagos está associado a melhor saúde mental e perceção de saúde geral.
Uma das investigadoras que se tem dedicado a pesquisar o bem estar no exterior e os efeitos terapêuticos da natureza, com foco em ambientes aquáticos, é a irlandesa Catherine Kelly. Foi a morte inesperada da mãe, estava Catherine na casa dos 20 anos, e a sua subsequente decisão de ir viver para a costa, que acabaria por lhe fixar a atenção nos benefícios do mar. “Aqueles cinco ou seis anos que passei na selvagem costa Atlântica curaram-me”, contou ao The Guardian, em 2019, embora só anos mais tarde encontrasse literatura científica a provar o que tinha percebido na pele: que se sentia muito melhor junto ao mar.
Para Mathew White, da Universidade de Exeter e psicólogo ambiental do programa que engloba 18 países e que estuda os benefícios dos espaços azuis, uma das melhores investigações de sempre sobre a felicidade em ambientes naturais foi publicada em 2013 e passou por pedir a 20 mil utilizadores de telemóvel que registassem a sua perceção de bem-estar e onde se encontravam em dado momento aleatório. Ambientes marinhos e costeiros sobressaíram como as localizações mais felizes, com grande destaque sobre os ambientes urbanos.
Um estudo publicado em dezembro de 2020 na Environmental Research dividiu a exposição/contacto com espaços azuis, como a orla costeira, lagos ou rios em quatro tipos: proximidade de casa/trabalho, exposição indireta (através da janela ou da televisão), secundária (por exemplo, passar por um destes locais durante uma deslocação para outro lado qualquer) e intencional. E são três a vias por que a proximidade da água afeta a saúde, o bem-estar e a felicidade: os fatores típicos destes ambientes, como ar menos poluído e mais luz solar; o facto de as pessoas que vivem perto da água tenderem a ser mais ativas fisicamente (e não apenas com desportos aquáticos, mas também com caminhadas, corrida e bicicleta e, por fim, a via pela qual os espaços azuis parecem ganhar aos outros ambientes naturais – o efeito restaurador a nível psicológico, a traduzir-se em melhorias no humor e redução do stress.
Para quem vive longe do mar, de rios ou lagos, as notícias também são boas: um estudo de 2020, liderado por White, concluiu que só o som da água e a luz refletida nela podem ser suficientes para obter aquele efeito restaurador, dando uma fonte como exemplo.
Mas apesar desta preocupação em mostrar que “alguma água é sempre melhor que nenhuma”, os investigadores sublinham que nenhum local parece ser mais eficaz neste sentido do que a costa, com White a sugerir que a ruminação de pensamentos negativos – um fator da depressão, pode ser atenuada com o foco no movimento das ondas e das marés, puxando a atenção para o ambiente externo.