“Sei que vais à Casa dos Estudantes do Império, antro de comunistas e sítio de vida fácil para as mulheres.” Talvez a memória a esteja a trair. Talvez não tenham sido exatamente estas as palavras escritas pelo pai. Mas, seis décadas depois, a angolana Maria do Céu Carmo Reis não tem dúvidas quanto às recriminações. Cita-as de cor. Era já demasiado tarde quando a carta paterna lhe chegou às mãos. O “encantamento” com a Casa dos Estudantes do Império (CEI) tornara-se irreversível. “Fui assistir a um recital de poesia. Ouvir todos aqueles poemas era de uma tal beleza, de uma tal exaltação… Nunca mais deixei de lá ir”, recorda na sua casa em Luanda. Quando começou a frequentar a CEI, no final de 1961, a então estudante de Medicina tinha 18 anos. Hoje, tem 80.
Grande reportagem: A histórias das resistentes esquecidas
Foto: Fundação Mário Soares
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Pela Casa dos Estudantes do Império, a associação de apoio aos jovens “ultramarinos” a estudar na “metrópole”, que se tornou uma dor de cabeça para o Estado Novo, passaram grandes figuras da luta pela independência das antigas colónias. Mas essa é apenas a face mais visível da história da instituição, que também era frequentada por uma minoria de estudantes do sexo feminino. Mulheres invisíveis, que desafiaram a sociedade bafienta da época e que fizeram revoluções