Um novo estudo, conduzido por investigadores da Universidade de Valência, em Espanha, concluiu que ler em papel é mais positivo para fomentar certas capacidades relativamente às leitura digital.
De acordo com a equipa, que analisou mais de 20 estudos sobre compreensão de leitura que incluíram cerca de 400 mil voluntários, publicados entre 2000 e 2022, ler em papel durante um longo período de tempo pode aumentar as capacidades de compreensão de seis a oito vezes mais do que a leitura digital.
Citado pelo The Guardian, Ladislao Salmerón, professor na Universidade de Valência e um dos autores do artigo, garante que “a associação entre a frequência da leitura digital para lazer e as capacidades de compreensão de texto é próxima de 0” e que esta conclusão pode ser justificada pela “qualidade linguística dos textos digitais” ser inferior “à tradicionalmente encontrada nos textos impressos”.
Além disso, nas leituras digitais o leitor “não fica totalmente imerso na narração, ou não capta totalmente as relações complexas de um texto informativo”, afirma ainda Salmerón. Um exemplo pode ser um texto que lemos nas redes sociais, por exemplo, que pode coloquial e carecer de sintaxe e raciocínio complexos, ou seja, torna o “mindset” para a leitura mais superficial.
Um resultado surpreendente do estudo, de acordo com o autor, foi que a associação pequena entre leitura digital por motivos de lazer e a compreensão de textos permaneceu, independentemente do tipo de leitura que as pessoas fazem, tanto nas redes sociais como em sites educativos.
“Esperávamos que esta última estivesse associada de maneira muito mais positiva à compreensão de texto, mas os nossos dados dizem que isso não acontece”, afirma.
Apesar dos resultados, os investigadores do estudo, publicado na revista Review of Educational Research, garantem que não são contra a leitura em suportes tecnológicos.
Alunos beneficiam da leitura digital?
De acordo com a equipa, os resultados do estudo indicam que a relação entre as leituras digitais e o desenvolvimento de capacidades de compreensão de texto é negativa para alunos do ensino básico.
“Sabemos que a capacidade de regularmos a nossa cognição evolui durante a adolescência” explica o autor, acrescentando que as crianças mais pequenas “podem não estar totalmente equipadas para autorregular a sua atividade durante a leitura digital de lazer”.
Além disso, as crianças mais novas que praticam leitura digital com frequência podem aprender menos vocabulário “num período crítico em que estão a mudar de aprender a ler para ler para aprender”, referem os autores.
Contudo, o mesmo não se verificou relativamente aos alunos do ensino secundário e universitários, em que a relação entre a leitura digital e o desenvolvimento das capacidades de compreensão de texto revelou-se positiva.
“Com base no que descobrimos, os hábitos de leitura digital não compensam tanto como a leitura em papel”, refere Lidia Altamura, também autora do estudo. “É por isso que, ao recomendar atividades de leitura, as escolas e os seus diretores devem enfatizar mais a leitura em papel relativamente à digital, especialmente para os leitores mais jovens”, remata.